Os acidentes de trânsito estão entre os eventos que mais tiram anos de vida das pessoas, é o que aponta a BBC. Falamos de um problema que mata 89 brasileiros todos os dias, três a cada hora.
De acordo com o Instituto para a Avaliação de Métricas em Saúde da Universidade Washington, nos Estados Unidos, batidas e atropelamentos são a oitava principal causa de morte no país. Se subtrairmos as doenças desse ranking, os acidentes figuram em segundo lugar, atrás apenas da violência interpessoal.
Nas últimas duas décadas, o número de vítimas do trânsito no país vem caindo aos poucos: entre 2011 e 2020, essa taxa foi reduzida em 30%. Mas isso não foi suficiente para que o Brasil cumprisse a meta de cortar em 50% esse tipo de fatalidade, como estipulado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas (ONU).
Um levantamento feito pela BBC News Brasil a partir do DataSUS — o banco de dados públicos do Sistema Único de Saúde — revela que existe um perfil de quem mais morreu nas ruas, avenidas e estradas nos últimos anos.
"Essas mortes costumam seguir um padrão claro: em sua maioria são motociclistas, jovens e indivíduos do sexo masculino", analisa José Aurelio Ramalho, diretor presidente do Observatório Nacional de Segurança Viária.
De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possuía em 2006 um total de 45 milhões de veículos de todos os tipos — destes, 27 milhões (61% do total) eram carros e 9 milhões (20%) eram motocicletas.
Em 2020, esses números mais que dobraram. A frota nacional passou a contar com 107 milhões de veículos, com 58 milhões (53%) de carros e 28 milhões (26%) de motos.
Esses números revelam que a participação relativa dos carros caiu oito pontos percentuais, enquanto das motocicletas cresceu seis. Nesses 14 anos, o tamanho da frota de duas rodas triplicou.
O aumento do número de motociclistas e a própria situação de vulnerabilidade desse tipo de direção são fatores que ajudam a explicar por que eles se tornaram as principais vítimas do trânsito no Brasil nas últimas décadas.
Em 1996, foram registradas 725 mortes de motociclistas, o que representa 2% do total de óbitos ocorridos em vias públicas naquele ano.
Essa taxa cresceu de forma contínua desde então: em 2020, 11.583 motociclistas morreram no Brasil, que passaram a representar 36% das vítimas do trânsito — um crescimento de 18 vezes na proporção num intervalo de 24 anos.
Nesse mesmo período, a proporção de mortes entre ocupantes de carros dobrou: eles representavam 10% das ocorrências fatais em 1996 (com 3,7 mil óbitos) e agora são 20% (6,7 mil).
A mudança positiva aconteceu entre os pedestres. Há duas décadas e meia, foram notificadas 12,9 mil mortes (36% do total) neste grupo. Essa taxa foi se reduzindo aos poucos e, mais recentemente, foram 5,1 mil óbitos (15%) entre quem anda a pé.
Num relatório sobre segurança viária publicado em 2018 pela OMS, o Brasil é encarado como exemplo positivo em três aspectos principais: a política de zero tolerância de álcool e direção, o uso de cinto de segurança nos carros e a obrigação de botar o capacete entre os usuários de motocicletas.
O país, porém, peca em outros dois quesitos fundamentais analisados pela instituição: o limite de velocidade e a adoção de cadeirinhas para menores de 10 anos no banco traseiro dos automóveis.
A OMS estipula que a velocidade dos veículos deveria chegar a, no máximo, 50 km/h em perímetros urbanos. "Pedestres que são atropelados por um carro a 65 km/h tem um risco cinco vezes maior de morrer em comparação com aqueles que são atingidos a 50 km/h", calcula a entidade.
Já a cadeirinha é tida como peça essencial de segurança para as crianças, pois os cintos de segurança não são capazes de segurá-las e mantê-las mais protegidas durante uma colisão.
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