A cerveja consumida em casa ficou em média 8,7% mais cara no ano passado, enquanto em bares e restaurantes subiu 4,8%. As duas variações foram as maiores registradas nestes produtos no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) desde 2015.
As perspectivas para 2022 são pouco animadoras, porque a guerra entre Rússia e Ucrânia pressiona os preços globais da cevada e do malte, ingredientes da cerveja. Os dois países respondem por 28% das exportações globais da cevada, e a Rússia é o terceiro maior fornecedor de malte ao Brasil. Assim como em fertilizantes, o Brasil é fortemente dependente de importações no setor cervejeiro.
Assim como em fertilizantes, o Brasil é fortemente dependente de importações no setor cervejeiro.
Veio do exterior 78% da cevada e 65% do malte consumidos no país em 2021, segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv). O lúpulo, terceiro ingrediente central da cerveja, é praticamente 100% importado atualmente.
Embora Uruguai e Argentina sejam os principais fornecedores de matéria-prima para cerveja para o Brasil, assim como com o trigo, a alta global de preços causada pela redução da oferta mundial de cereais em meio à guerra tende a afetar todos os compradores.
Um ponto positivo foi a valorização recente do real em relação ao dólar, porque isso ajuda a contrabalançar a pressão no preço das commodities.
Além disso, a Ambev, líder de mercado com 61,6% de participação no Brasil, diz contar com uma proteção de, em média, 12 meses contra variação cambial ou de preços das principais commodities que afetam seu custo de produção.
Mas analistas avaliam que empresas menores podem ter maior dificuldade com eventual alta de custos, tendo que repassar aumentos para o consumidor ou ter menos lucro.
A alta de preços já é bastante perceptível nas prateleiras e aplicativos de entrega, e os consumidores adotam estratégias para não ficar sem a bebida.
Segundo a empresa de pesquisa de mercado Kantar, os brasileiros têm trocado marcas consideradas de alto padrão, como Heineken, Stella Artois e Eisenbahn, por outras mais populares - e baratas -, com Skol, Brahma, Schin e Itaipava, na contramão do que vinha acontecendo em anos recentes.
Os preços da cerveja em 2022, em meio à alta generalizada das commodities devido à guerra na Ucrânia, devem continuar a subir, segundo o analista da XP e o sindicato das cervejarias. A pressão é de alta, mas ela pode ser em parte mitigada pelo câmbio e atingir empresas grandes e menores de formas diferentes.
A Ambev estima uma alta de custo por hectolitro (100 litros) de 16% a 19% em 2022. No ano passado, o aumento foi de 17,4%.
A estimativa foi feita pela empresa antes da explosão da guerra na Ucrânia, mas a cervejaria considera que as projeções estão mantidas, devido à sua política de proteção de custos (chamada de hedge, em inglês) de 12 meses.
Já a Heineken, mesmo antes da guerra, projetava um crescimento de custos por hectolitro na casa dos 15% em 2022, devido a aumento nos preços de commodities, energia e frete.
"Compensaremos esses aumentos de custo de insumos por meio de preços, o que pode levar a um consumo de cerveja menor", disse em fevereiro Harold van den Broek, diretor financeiro do grupo, em comentário sobre resultados.
A guerra na Ucrânia acrescenta pressão a esse cenário na percepção das maiores empresas do setor.
O Brasil é o terceiro maior mercado produtor de cerveja do mundo, atrás de China e Estados Unidos, com 151,9 milhões de hectolitros da bebida em 2020, segundo dados do relatório BarthHaas Hop Report 2020/2021, usado como referência pelo Sindicerv.
Na ponta das matérias primas, Rússia e Ucrânia são gigantes, respondendo juntos por 28% das exportações globais de cevada em volume e por 24% em valor.
Os dois países também têm volumes relevante de vendas externas de malte. feito a partir da torra do broto germinado de cevada ou outro cereal. A Rússia é o terceiro maior fornecedor de malte ao Brasil.
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