O 1 bilhão de usuários do Facebook receberam um presente: uma videorretrospectiva do tempo em que estão inseridos na rede, que completou 10 anos na terça-feira, assinada por "Mark e a equipe do Facebook". A simpática homenagem não foi vista pela terapeuta ocupacional Lívia Caroline Alves de Pina, de 28 anos. Amanhã faz exatamente uma semana que ela disse adeus ao Facebook. Lívia esteve nove anos com Mark Zuckerberg, que tem agora a ambição de chegar a 5 bilhões de usuários em todo o mundo. No começo, a atenção de Lívia era disputada entre o Orkut e o Face. Mas a migração dos seus amigos a influenciou a largar de vez a rede social do Google. Ela confessa: não queria ficar de fora do grupo, da mídia da moda. "Ainda tenho conta no Orkut, mas fico com preguiça de deletar porque tenho muitas fotos nos álbuns virtuais que não estão no PC", diz. Seu perfil no Facebook sempre foi bloqueado e nunca passou dos 600 amigos - o que para ela já era muito, pois havia contatos com os quais ela conversou apenas uma vez e adicionava por pura convenção social. A temporada na qual a rede foi mais útil na sua vida foi durante um intercâmbio de seis meses na Irlanda, em 2011. Pela sua página, os parentes mais próximos ficavam sabendo das novidades em terras estrangeiras, além de ela poder entrar em contato com os novos amigos. No período pós-viagem, ainda desempregada, ela conta que ficava muito tempo on-line. "Na minha lua de mel não liguei para os meus pais quando cheguei a Punta Cana e só fiquei sabendo que eles estavam preocupados comigo por mensagem de uma amiga no Facebook", lembra. Nos últimos tempos, o perfil de Lívia se tornava cada vez mais restrito. "Nem no bate-papo eu entrava mais. Só respondia quando alguém mandava inbox. Queria ter mais privacidade. Na rede todo mundo sabe da sua vida, ficam com 'invejinha', botam olho-gordo", destaca. A terapeuta percebeu que estava gastando grande parte do seu tempo de forma inútil. "Você acaba vendo uma atualização de uma foto e abre outra e outra... Você não liga mais para as pessoas. Vi que estava deixando de ler. Meia hora zapeando o Facebook já dava para colocar em dia cinco páginas da minha leitura", conta. A gota d'água, segundo ela, foi na última sexta-feira, quando, ao discordar de uma amiga sobre a cena de uma novela, a outra jovem correu para a rede e jogou uma indireta. "Muitas colegas usam o Facebook como diário. Além disso, todo mundo quer passar uma imagem de vida perfeita", reclama Lívia. Fora isso, a conta no site já rendeu um comecinho de dor de cabeça em seu relacionamento amoroso. Não por ciúmes, mas porque Lívia gastava muito tempo na rede enquanto estava na companhia do parceiro. "Passei o fim de semana longe do Facebook e já pude atualizar a minha leitura. Tenho um aplicativo da Bíblia e já li os capítulos referentes a cada dia do plano", conta. Antes da exclusão total da conta, a terapeuta chegou a ficar um mês sem o site de Zuckerberg e acabou perdendo uma festa de aniversário porque o evento foi divulgado só on-line. Mas agora não há problemas: o Whatsapp está aí. Lívia conta que as amigas têm grupos no serviço de mensagens e combinam encontros, além de trocar fotos e vídeos. "Se eu não tivesse Whatsapp, talvez não teria coragem de sair do Facebook", conclui. Já para a aposentada Marisete Mota, de 68, além de ser mais fácil encontrar amigos e parentes, a adesão à plataforma de relacionamento se deu por outro motivo. "Eu via todo mundo usando e ficava até com vergonha de não saber mexer. Comecei a pesquisar e a usar com a ajuda de muitas pessoas, que me ensinaram", conta. Ela profere uma frase emblemática, que você, inclusive, já deve ter escutado de algum parente, quando ele adere a uma nova tecnologia: "Achava que era um bicho de sete cabeças". Segundo Marisete, que usa o Facebook mais para comentar em fotos e murais de amigos e olhar algumas páginas, "a gente vê as pessoas sem sair de casa. Falamos com todo mundo - de países diferentes, parentes distante, sem nem mesmo abrir uma porta." A plataforma social também serviu para que ela reencontrasse uma amiga de igreja que não via havia 40 anos. E o discurso da usuária é de aluna aplicada. "Pretendo aprender mais coisas que não sei." GUERRA DE NÚMEROS
Mesmo com os avanços e com os números imensos, o Facebook, que tem 1,23 bilhão de usuários (ativos/mês) no mundo, dos quais 83 milhões estão no Brasil (ativos/mês), passa por um momento crucial. Os usuários, que antes eram basicamente jovens como Lívia Carolina, também envelheceram, e o site começa a ter dificuldades em atrair novos adeptos. A concorrência aumentou principalmente com a disseminação de smartphones e tablets e com o acesso a aplicativos de comunicação, como Whatsapp e WeChat. Segundo pesquisa feita pela agência digital iStrategy, a quantidade de membros da maior rede social do mundo com mais de 55 anos, como Marisete, aumentou em 80,4% comparada à pesquisa da mesma empresa em 2011. No mesmo estudo, a companhia apurou que 4,2 milhões de usuários que cursam o ensino médio e 6,9 milhões que estão na faculdade saíram do Facebook de três anos para cá. É uma guerra de números. O Facebook apresenta dados da consultoria comScore referentes a outubro de 2012 e 2013 para contrapor à pesquisa acima. Pela pesquisa, a faixa etária dos jovens (entre 15 e 24 anos) foi a que apresentou maior crescimento no último ano. Também de acordo com a comScore, o número global de usuários do Facebook de 15-24 anos, de outubro de 2012 a outubro de 2013, aumentou 7.8%, saltando de 222.651 para 240.066 milhões de usuários. O Internet.org, esforço global para tornar o acesso à internet possível para mais pessoas, será essencial para atingir 5 bilhões de usuários. "Hoje, chegamos a oito em cada 10 internautas no Brasil, por exemplo, mas não nos contentaremos em chegar a 100% deles. Queremos chegar também àqueles que ainda não entraram no mundo on-line", afirma o Facebook. Para isso, a rede social mira na conectividade móvel. "As pessoas carregam uma TV, um rádio, e-mail, além de todos os amigos no bolso. À medida que mais pessoas usam o Facebook para se conectar com amigos por meio do celular, nos empenhamos em desenvolver os melhores produtos para eles." Para o professor da Fundação Getúlio Vargas e consultor de marketing de redes sociais Edney Souza, um possível rival para a principal plataforma de relacionamento do Ocidente é a rede social da gigante das buscas, a Google Plus. "É um sério candidato, porque tem o respaldo do Google, que está trabalhando nela aos poucos, e é uma empresa global com ambições similares às do Facebook."
Fonte: Estado de Minas
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