Um em cada três brasileiros tem obesidade, e especialistas alertam para avanço da doença

Autor: Salomão Rodrigues

Fonte:

04/03/2025

Um em cada três brasileiros vive com obesidade, segundo o Atlas Mundial da Obesidade 2025, divulgado pela Federação Mundial da Obesidade. O relatório aponta que 68% da população do país está acima do peso, sendo que 31% tem obesidade e 37% tem sobrepeso. A projeção indica um aumento expressivo até 2030, com crescimento de 33,4% no número de homens com obesidade e 46,2% entre as mulheres.

A pesquisa também revela que o sedentarismo é um fator preocupante, já que entre 40% e 50% da população adulta não pratica atividade física na frequência e intensidade recomendadas. A obesidade e o sobrepeso estão associados a diversas doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes tipo 2 e Acidente Vascular Cerebral (AVC). Em 2021, cerca de 60,9 mil mortes prematuras no Brasil foram atribuídas a essas condições.

O endocrinologista Marcio Mancini, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), destaca que a obesidade deve ser tratada como uma questão de saúde pública. Para ele, não é razoável responsabilizar individualmente pessoas que enfrentam longas jornadas de trabalho e dificuldades para manter hábitos saudáveis. Ele defende que medidas públicas sejam adotadas para enfrentar o problema, como a taxação de bebidas açucaradas, a inclusão de alertas nos rótulos de produtos com altos níveis de açúcar, gorduras saturadas e sódio, a redução dos preços de alimentos saudáveis e campanhas contínuas em escolas.

Mancini também ressalta que questões como segurança pública e urbanismo influenciam diretamente na qualidade de vida da população. Segundo ele, a violência urbana e a falta de infraestrutura adequada dificultam a prática de atividades físicas ao ar livre. O especialista defende a criação de mais parques em todas as regiões das cidades, calçadas seguras para caminhadas e melhorias no transporte público para incentivar deslocamentos menos sedentários.

No cenário global, mais de 1 bilhão de pessoas vivem com obesidade, e a previsão é que esse número ultrapasse 1,5 bilhão até 2030, caso medidas efetivas não sejam adotadas. Apenas 7% dos países possuem sistemas de saúde preparados para lidar com o problema, e a obesidade já é responsável por 1,6 milhão de mortes prematuras por ano. A Federação Mundial da Obesidade pede que o tema seja tratado como um problema social, com políticas voltadas para rotulagem de alimentos, taxação e promoção da atividade física.

Embora a situação no Brasil seja menos grave do que nos Estados Unidos, onde 75% da população está acima do peso e 44% tem obesidade, os índices brasileiros superam os de países como a China, onde 41% da população tem excesso de peso e 9% tem obesidade. Mancini alerta que a alimentação do brasileiro tem piorado ano a ano, com redução do consumo de arroz e feijão e aumento de alimentos ultraprocessados, mas ainda há tempo para reverter essa tendência.

Diante desse cenário, a campanha “Mudar o Mundo Pela Saúde” busca mobilizar governos, organizações e a sociedade para implementar mudanças efetivas. Nesta terça-feira, 4, o Dia Mundial da Obesidade reforça a importância da conscientização sobre o tema. No Brasil, a Abeso e a SBEM lançaram o e-book gratuito “Mudar o Mundo Pela Nossa Saúde”, com propostas para fortalecer políticas públicas e iniciativas privadas na prevenção e no tratamento da obesidade.

 

Foto: Reprodução/Banco de Imagens