O defensor brasileiro Luis Gabriel, mais conhecido como Negueba, disse ter sido vítima de racismo durante uma partida em Malta, país europeu localizado no Mar Mediterrâneo. No mesmo jogo, ele relatou o ato ao árbitro, o que gerou confusão. Ele foi punido com cartão amarelo e, minutos depois foi expulso de campo ao cometer uma falta.
Negueba tem 23 anos e defende o Oratory Youths, que joga a primeira divisão de Gozo, ilha que pertence a Malta. Em uma partida na última segunda-feira, contra o Ghajnsielem, ele afirmou que um dos atletas do time adversário o chamou de “macaco”.
– Foi recorrente na partida. Numa jogada de ataque do nosso time, fui driblar o adversário e sofri uma falta. Eu fiquei no chão e vieram dois jogadores do time deles, e um já me chamou de macaco no ouvido, em português mesmo, não foi nem em inglês ou maltês, ele já sabia o que falar. O segundo jogador não entendi o que falou, mas o outro foi bem nítido. Na minha cara – contou o brasileiro, que ainda recebeu o cartão amarelo.
– O árbitro nem quis saber, eu sinalizei, mostrei pra ele, passei a mão no meu braço, contei da palavra que me falaram, mas nada foi feito e eu acabei tomando o cartão – disse Negueba, que minutos depois recebeu o cartão vermelho.
– Aconteceu o racismo, passaram três minutos, eu reclamei de novo, logo em seguida eles atacaram, eu fiz uma falta e ele (árbitro) me expulsou. Meio que, tipo, vou acabar com esse problema no jogo – complementou.
O fato repercutiu negativamente em Malta e o Oratory, clube do zagueiro, divulgou uma nota em solidariedade a Negueba, reforçou se posicionar “resolutamente contra todas as formas de discriminação” e pediu para que as autoridades do país “tomem as medidas apropriadas para garantir que tais ocorrências sejam eliminadas do nosso querido esporte”.
– A Federação de Malta me mandou uma mensagem, dizendo que queriam falar comigo, mas ainda não conversamos. O clube me deu todo o suporte, emitiram nota. Começaram uma campanha essa semana já e vão continuar. A federação não está a favor, disseram que vão falar comigo e tomar as providências necessárias – comentou o jogador, que espera também ter o seu cartão vermelho anulado.
Nascido em Franca (SP), Luis Gabriel começou na base da Francana e também defendeu Mogi Mirim, Contagem-MG, Ivinhema-MS, Luverdense e Independente-SP, antes de se transferir ao futebol de Malta.
– Nunca havia acontecido comigo, sempre joguei no Brasil, é minha primeira vez na Europa. Claro que sempre vi outros jogadores sofrerem, mas eu vim nem pensando nisso, esperava que nunca acontecesse comigo. E quando acontece é um susto bem grande, foi a primeira vez que sofri o racismo dessa forma. A gente sempre sofre fora do campo, algo que acontece na rua, em algum estabelecimento, mas no campo foi a primeira vez – revelou o atleta.
Mesmo com a repercussão do caso, Negueba não se mostrou otimista com punições mais fortes aos jogadores rivais ou ao clube. Embora abalado, disse que permanecerá em Malta pelo sonho de jogar futebol e ajudar sua família no Brasil.
– Vou continuar firme, mas sem muita esperança que esses atos de racismo acabem. É uma luta constante, vem de muitos anos, no futebol nem se fala, sempre tem uma notícia assim, e ficamos um pouco sem esperança, se até o Vinicius Júnior sofre no Real Madrid, o melhor time do mundo, e pouco é feito, a gente fica meio desamparado. Mas vou seguir trabalhando e buscando algo melhor (...) demorei muito para chegar aqui, batalhei demais, estou aqui pela minha família, não posso por causa disso abandonar minhas coisas e voltar pra casa, muita gente depende de mim no Brasil – concluiu o brasileiro.
Fonte: G1.com