Nesta segunda-feira, 25, a rede de supermercados Carrefour Brasil tornou-se alvo de boicote por parte dos principais fornecedores de carne do país. O impasse começou após uma declaração de Alexandre Bompard, CEO global do Carrefour, sobre a comercialização de carne do Mercosul na Europa.

Na última sexta-feira, 22, Bompard anunciou em comunicado que a rede na França não comprará carne proveniente do Mercosul. Ele justificou a decisão mencionando o acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul, que tem gerado protestos de agricultores franceses preocupados com a entrada de produtos que, segundo eles, não atendem às mesmas exigências ambientais e de qualidade aplicadas na Europa.

No texto divulgado, o CEO afirmou:
“Queremos unir forças com o setor agrícola e assumimos hoje o compromisso de não comercializar carne do Mercosul. Esperamos que outros atores da cadeia agroalimentar sigam nosso exemplo e reforcem a solidariedade com os criadores franceses. No Carrefour, estamos prontos para isso, independentemente dos preços e das quantidades que o Mercosul venha a nos oferecer.”

Mais tarde, a rede esclareceu que o boicote seria válido apenas para suas operações europeias, enquanto as lojas no Brasil e em outros mercados continuariam comprando carne de origem local. A explicação, no entanto, não foi suficiente para evitar a reação no Brasil.

Fornecedores reagem com boicote
Em resposta à medida, mais de 40 fornecedores brasileiros assinaram uma carta comprometendo-se a suspender as vendas de carne ao Carrefour no Brasil. Entre eles estão gigantes do setor como JBS e Marfrig, responsáveis por cerca de 82% da carne fornecida à rede no país. Ambas já interromperam as entregas.

Um trecho da carta divulgada pelos frigoríficos faz uma crítica a postura da empresa:
“Se a carne brasileira não serve para abastecer o Carrefour na França, é difícil entender como poderia ser considerada adequada para outros mercados.”

A suspensão também impacta marcas associadas ao Carrefour, como Atacadão e Sam’s Club. O setor de carnes representa aproximadamente 2,5% da receita anual do Carrefour no Brasil, o equivalente a R$ 3 bilhões.

Repercussão no mercado
Além dos fornecedores, a Federação de Hotéis, Bares e Restaurantes do Estado de São Paulo (FHORESP), que reúne mais de 500 mil empresas, anunciou que também deixará de adquirir carne nas lojas do Carrefour. Em nota, a federação afirmou:
“Enquanto o Carrefour insiste em desqualificar nossa carne, questionando uma qualidade comprovada globalmente, deixaremos de comprá-la.”

O impacto do boicote já é visível. As ações do Carrefour na bolsa de valores caíram 5,42% nesta segunda-feira, refletindo a crise de imagem enfrentada pela empresa.

Resposta do Carrefour

Diante da reação negativa, o Carrefour Brasil emitiu uma nota lamentando os desdobramentos:
“Infelizmente, a suspensão do fornecimento de carne impacta nossos clientes, especialmente aqueles que confiam em nós para abastecer suas casas com produtos de qualidade e responsabilidade.”

Com os ânimos acirrados, o conflito expõe as tensões comerciais entre Mercosul e União Europeia e coloca o Carrefour no centro de um debate que mistura protecionismo, meio ambiente e interesses econômicos.