Espionagem paralisa várias negociações entre Brasil e EUA

Autor: Redação Pop Mundi

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03/11/2013
Brasil e EUA Espionagem dos EUA a vários países desgastou relação com americanos

O escândalo da NSA, a agência de espionagem americana, paralisou várias negociações entre Brasil e EUA. Desde a revelação de que a NSA espionava a presidente Dilma Rousseff e a Petrobras, o que levou ao cancelamento da visita de Estado que a presidente faria a Washington em outubro, uma série de iniciativas empacou.

O piloto do programa Global Entry, que permite a entrada facilitada de 1.500 empresários nos EUA, estava prestes a ser assinado e, por ordem do governo brasileiro, foi para a geladeira.

O acordo de Previdência está pronto, mas não foi assinado. Assim como o firmado com o Japão, permitiria que brasileiros morando nos EUA contassem seus anos de contribuição para uma aposentadoria brasileira, e o mesmo para americanos aqui. Segundo o Itamaraty, as dificuldades estão no lado americano.

"O ritmo passou de morno para morto", disse à Folha um envolvido nas negociações. "Está tudo parado". "Tanto EUA quanto Brasil estão irritados", disse um diplomata americano.

A Folha apurou que o secretário americano de Agricultura, Tom Vilsack, afirmou em agosto a interlocutores brasileiros que os EUA estavam prontos para abrir mercado para a carne bovina brasileira. O Brasil tenta há anos exportar carne bovina in natura para os EUA (só entra carne industrializada).

Vilsack disse a integrantes do governo brasileiro que a "regra proposta" para a abertura do mercado seria publicada pouco antes da visita de Dilma. Depois da publicação da "regra proposta", é feita uma consulta pública e aí é permitida a venda.

"Eles estavam prestes a anunciar a abertura do mercado para a carne bovina, mas agora não sabemos o que vai acontecer", diz Pedro Camargo Neto, ex-presidente da Abipecs, associação de exportadores de carne suína.

As reuniões do Diálogo de Energia e Diálogo de Defesa, em outubro, foram canceladas. O mesmo ocorreu com o Fórum de CEOs (diretores-executivos de empresas dos dois países). A parceria em comunicações e tecnologia da informação empacou. "O acordo não vai sair, ainda mais incluindo segurança cibernética", diz uma fonte.

"Há desgaste no relacionamento tanto aqui quanto lá, embora haja um esforço para controlar danos", diz Paulo Sotero, diretor do Brazil Institute do Wilson Center.

O ex-embaixador americano no Brasil Thomas Shannon disse a interlocutores que deixou o país em setembro "muito desgostoso", por causa da "despedida inadequada" que recebeu. Além disso, autoridades americanas acreditam que Dilma está se aproveitando do problema para atacar os EUA e ganhar votos.

Já os brasileiros não viram contrição suficiente por parte dos EUA, que teriam sido mais enfáticos em seu pedido de desculpas à chanceler alemã, Angela Merkel, também espionada. "E a questão não vai desaparecer --ainda há milhares de documentos que devem fazer referência ao Brasil", diz Carl Meacham, diretor do Centro Américas no centro de pesquisas CSIS.

O Itamaraty afirmou que os acordos estavam sendo negociados em ritmo acelerado por causa da visita, mas, com a suspensão, apenas se "perdeu o senso de urgência".

Fonte: Folha de S.Paulo