O ministro da Economia da Argentina, Axel Kicillof, declarou, em Nova York, que não houve acordo entre o país e os fundos especulativos sobre o pagamento da dívida soberana. Segundo o ministro, os chamados fundos abutres não aceitaram a oferta feita pelo governo argentino de um ajuste nos mesmos termos concedidos a outros credores, que aceitaram a reestruturação da dívida em 2005 e 2010.
Os fundos abutres compraram papéis da dívida argentina a preços baixos depois da moratória de 2001 e entraram na Justiça para cobrar o valor integral, sem o desconto, como aceitaram os outros credores.
Apesar da falta de acordo, Kicillof reafirmou que a Argentina não vai cair em default, a moratória, porque continuará pagando os credores que aceitaram a renegociação da dívida. "A Argentina fez uma oferta para que aceitassem a renegociação como fizeram em 2005 e em 2010, o que implica 300% de lucro, porque eles compraram esses títulos a preços vis e isso não violaria a cláusula de tratamento igualitário , mas eles não aceitaram a oferta", explicou o ministro, em entrevista coletiva no Consulado-Geral da Argentina em Nova York após a reunião, que durou mais de seis horas.
Os especuladores ganharam na Justiça o direito de receber a totalidade da divida (US$ 1,3 bilhão), sem desconto, e com os juros acumulados durante o longo processo. Pelos cálculos dos economistas, o total chega a US$ 1,65 bilhão. Enquanto isso, a maior parte dos detentores de títulos da divida argentina (93%) aderiu a dois planos de reestruturação, de 2005 e 2010, e aceitaram receber 35% do valor dos papéis parcelado em até trinta anos.
Segundo Kicillof, o governo argentino sugeriu aos fundos abutres que entrassem com uma medida cautelar para pedir mais tempo de negociação, mas a proposta também foi recusada. "Não aceitaram porque querem mais, e querem agora, e isso gera muitas dúvidas", disse.
O dinheiro que a Argentina deve aos credores que aceitaram a renegociação da dívida está bloqueado no Banco de Nova York por causa do impasse com os fundos abutres. Diante da falta de acordo, tecnicamente, o país deverá declarar moratória. No entanto, segundo Kicillof, como o governo fez os depósitos, a situação não pode ser considerada calote.
"Se cai em default quando não se paga, e a Argentina pagou e continuará pagando sua dívida", afirmou. "Ninguém sabe caracterizar esta situação (em termos legais), porque não existe, porque ninguém pensou que poderia vir um juiz e dizer que as pessoas não poderiam receber", criticou, referindo-se ao juiz Thomas Griesa, autor da decisão favorável aos fundos abutres.
Durante a entrevista, Kicillof também criticou a decisão da agência de classificação de risco de Standart & Poors de declarar a Argentina em "default seletivo", mesmo antes do fim da reunião de negociação com os abutres. "Quem acredita nas agências classificadoras? São as mesmas que em 2001 diziam que tudo estava perfeitamente bem", lembrou.
Fonte: Agência Brasil