Estima-se que a cachaça brasileira tenha sido criada há quase 500 anos, nos engenhos do Brasil, inspirada em parte pela técnica portuguesa de destilação da borra da uva. No entanto, o primeiro destilado das Américas, que surgiu antes mesmo da tequila mexicana e do pisco peruano, ainda não tem, segundo as instituições responsáveis por divulgar o produto, o reconhecimento devido. Aproveitando a passagem dos turistas estrangeiros durante a Copa do Mundo no Recife, a Associação Pernambucana dos Produtores de Aguardente de Cana e Rapadura (APAR) promove degustação da bebida em hotéis, bares e restaurantes para aumentar as vendas deste mercado.
Em atuação desde o ano passado para a Copa das Confederações, o projeto "Copa Cachaça" é uma parceria entre a APAR, o Sebrae, a Agência para o Desenvolvimento de Pernambuco/Governo do Estado (AD Diper) e a Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe). Com uma equipe envolvida de 30 pessoas, entre promotores, coordenadores e responsáveis pela logística, a ação conta com três estandes instalados pelos hotéis Golden Tulip Recife Palace e Mar Hotel, onde se hospedam as delegações de futebol que jogam na Arena Pernambuco, além do Atlante Plaza, que recebe convidados internacionais e a comitiva da FIFA.
A degustação envolve nove marcas de cachaça, cada uma com portfólio diferente incluindo destilados brancos, envelhecidos ou bebidas mistas, todas produzidas em Pernambuco. Na ação junto aos turistas, são preparadas as famosas caipirinhas (com limão, açúcar e gelo) e entregues materiais informativos em versão trilíngue. A equipe de divulgação também atuou junto aos 3,5 mil mexicanos hospedados em um transatlântico atracado no Terminal Marítimo de Passageiros, no Porto do Recife, enquanto eles estiveram na cidade.
"Produzimos 800 milhões de litros de cachaça por ano no Brasil. Mas somente 1,3% desse total é exportado. É preciso expandir o reconhecimento da cachaça. Os turistas estão se mostrando muito interessados, e a aceitação têm sido 100%. Os que não conhecem já vão perguntando o que é. Isso tudo está sendo excelente", disse Margareth Rezende, diretora executiva da APAR e presidente da câmara setorial para discutir as necessidades do setor.
Paralelamente à ação nos hotéis, promotores da cachaça também estão fazendo visitas a bares e restaurantes de Recife nos finais de semana à noite, para fazer a divulgação não somente aos clientes, mas também aos donos dos estabelecimentos. O projeto realiza treinamentos de como servir e harmonizar a cachaça tendo como público-alvo garçons, gerentes e maîtres.
"Internamente, a cachaça tem um mercado forte, mas é preciso ainda quebrar o preconceito. Assim como os franceses têm o champagne; os escoceses, o uísque; e os mexicanos, a tequila, também temos a nossa bebida. Bebendo com responsabilidade, podemos nos orgulhar dela", defendeu Margareth.
Como disse o sociólogo Gilberto Freyre, a cachaça "vem dos mais velhos dias do Brasil". Não existem registros precisos de sua origem. Mas estudiosos estipulam que ela provavelmente surgiu entre os anos de 1516 e 1532, em engenhos de Pernambuco, Brasil ou São Paulo.
O maior estado produtor de cachaça é São Paulo, seguido de Pernambuco. Entre os maiores compradores estrangeiros, figuram Alemanha e Estados Unidos. Em 2001, através do Decreto 4.062, a cachaça foi reconhecida como Indicação Geográfica do Brasil.
Em 11 de abril de 2013, o governo dos Estados Unidos passou a reconhecer a cachaça como um produto brasileiro, a partir de decreto publicado no mesmo ano. O reconhecimento é parte do acordo bilateral entre os governos do Brasil e Estados Unidos, firmado em abril de 2012. Desde 2000, os Estados Unidos classificavam a cachaça como rum e requeriam que constasse no rótulo do produto a expressão "rum brasileiro", trazendo custos aos produtores, além de prejudicar os esforços de promoção do produto como uma bebida tipicamente brasileira.
A Colômbia também reconheceu, em agosto de 2012, através de um acordo de cooperação, a bebida. O próximo passo será promover a expansão junto à União Europeia. Um conselho regulador da cachaça está em fase de documentação em Brasília para ser aprovado e garantir mais espaço ao destilado.?