O computador de um jovem da periferia de Salvador foi usado para invadir sites de instituições como a Nasa, órgãos governamentais e empresas patrocinadoras da Copa do Mundo. Os irmãos e a mãe do adolescente, que dividiam com ele o uso da máquina, sequer desconfiavam que o garoto não só sabia modificar sites, mas tinha, com outros hackers baianos, invadido cerca de 1.500 páginas em cerca de um ano.
A forma contemporânea de protestar foi descoberta e gerou a apreensão de quatro adolescentes e de equipamentos como computadores, HDs externos, pen drive e DVD, em operação do Grupo Especializado de Repressão aos Crimes por Meios Eletrônicos (GME) da Polícia Civil da Bahia. Os materiais foram encaminhados para perícia no Departamento de Polícia Técnica (DPT). Por serem menores de idade, os jovens foram liberados, mas podem ter que cumprir medidas socioeducativas.
A investigação teve início quando foram invadidas as páginas da Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP) e da Academia de Polícia Civil (Acadepol). Segundo o delegado responsável pelo caso, Charles Leão, o GME chegou a três grupos de hackers que compartilhavam informações e colaboravam no ataque aos sites. "Eles estavam plenamente em vigor na operação contra a Copa do Mundo", informou Leão. O delegado avalia que por trás das ações "não havia uma bandeira, uma política partidária. Havia jovens que se divertiam, descobrindo vulnerabilidades dos sites".
Com idade entre 15 e 17 anos, os hackers foram localizados em suas casas, durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão, e convidados a depor. Leão conta que todos foram ouvidos na frente dos pais, que não só colaboraram com as investigações como "ficaram surpresos com o nível dos ataques" organizados pelos filhos. Estes, para eles, apenas gostavam de tecnologia. O delegado conta que, durante os depoimentos na delegacia, os jovens se mostraram arrependidos.
Outros integrantes de grupos hackers, ligados aos adolescentes descobertos na operação, continuam sendo investigados. As provas das ações devem ser reunidas e encaminhadas para o Ministério Público, a fim de que a Justiça adote as medidas necessárias.
Charles Leão espera, contudo, que os jovens não sejam criminalizados. Ele avalia que os adolescentes agiram para buscar autoafirmação e desafiar as instituições, e salienta que eles "têm um potencial enorme, que pode ser utilizado para produzir coisas boas para eles mesmos e para a própria sociedade".
Leão conta que três dos quatro envolvidos são integrantes de famílias humildes, que tiveram contato com os demais jovens a partir de jogos online. "A partir daí, foi muita persistência na busca do conhecimento e na transmissão de conhecimento", disse o delegado. Ele espera que o Estado "pegue todo esse conhecimento e aplique para o bem".
Fonte: Agência Brasil