A cafeicultura é a principal atividade econômica da região das Matas de Minas Gerais, servindo de sustento para mais de 30 mil famílias. As perdas de produtividade, o elevado custo de mão de obra e a variação dos preços da commodity, no entanto, estão fazendo com que os produtores busquem outras fontes de renda.
Foto: ReproduçãoO cafeicultor Antônio Simiqueli cultiva madeira de cedro australiano. As tábuas, com mais de 40 centímetros de largura, são bem valorizadas.
- Uma árvore com 16 anos deu três metros cúbicos de madeira. É um preço diferenciado do eucalipto, que todo mundo planta. Essa madeira vale R$ 1,6 mil o metro cúbico, sendo que o eucalipto vale R$ 300 o metro cúbico.
O cedro australiano foi plantado na roça de café, e o casamento deu certo. No último verão, as lavouras sofreram com as altas temperaturas e com a falta de chuva. Não foi o caso do cafezal de Simiqueli, onde as plantas não tiveram problema justamente porque tinham sombra para dar proteção. Já nesta época do ano, o cedro australiano está sem folhas, o que favorece o desenvolvimento do café, que precisa receber mais luz solar.
O cafeeiro também é beneficiado pela cobertura orgânica que as folhas que caem da árvore geram uma adubação pura para o cafezal.
- Tenho uma economia de 20% no meu adubo e de 50% com roçadeira ou capina na lavoura. Eu já fiz análise de solo em laboratório: meu solo está com teor de matéria orgânica em torno de 4%. Os demais solos, que não têm cedro, estão com 2% - explica o cafeicultor. Na Região das Matas de Minas, a estimativa de colheita é de cerca de 2,5 milhões de sacas de 60 quilos de café arábica, o que representa uma queda de 30% em relação à safra passada. Na bienalidade do café, após um ano de grande produção, como foi 2013, vem outro com menor produtividade. Alguns produtores também afirmam que esta safra será menor porque o clima muito seco do verão prejudicou a formação dos frutos.
Outros fatores de relevância para o setor são a oscilação do preço, que depende da reação do mercado internacional, e o custo de produção, elevado devido à mão de obra, já que o relevo montanhoso impede que as máquinas façam a colheita. Por todos esses fatores, a diversificação de culturas é indicada para que o cafeicultor tenha outras fontes de renda.
A Empresa de Assistência Técnica e Extenção Rural do Estado (Emater/MG) sugere o cultivo de itens da cesta básica, que podem ser consumidos pelas famílias e vendidos para os programas de merenda escolar.
- Arroz, feijão e milho, por exemplo, são opções naturais. Temos também a pecuária de leite, que é uma alternativa. Nós podemos pensar que a região tem uma vocação natural para a fruticultura, que precisa ser desenvolvida com pesquisas. Isso é pouco trabalhado, mas é uma alternativa que acho viável - diz o técnico da Emater/MG, Paulo Roberto Vieira Corrêa.
Se o reflorestamento for a opção, é preciso ter cuidado ao escolher a árvore.
- O cedro australiano foi plantado aqui na região, mas ele não se adaptou em todas as propriedades, então nós temos que pensar sobre isso. A árvore é exigente em tratos culturais, principalmente manejo de poda e também tratos fitossanitários, porque ela é atacada por pragas - explica o técnico da Emater.
O produtor Simiqueli não se arrepende da escolha. Ele acompanha o desenvolvimento dos cedros medindo o diâmetro do tronco. Quando a árvore chega a 2 metros de diâmetro, fica no tamanho ideal para a fabricação de móveis. O cafezal do produtor tem 15 hectares com cedro australiano, com espaçamento de 10 metros entre os cedros em linha. Podem ser plantadas de 100 a 120 árvores por hectare. Ele diz que as mudas custam o mesmo que as de café e a adubação também é a mesma.
Quando a madeira for cortada, é necessário fazer a recepa de parte do cafezal, por isso, a produção exige planejamento para que uma cultura não prejudique a outra. Como o corte do cedro acontece, em média, 15 anos depois do plantio, fazer reflorestamento é obter uma fonte de renda futura. - Se o produtor quiser uma poupança garantida, ele planta árvore - aconselha Corrêa.
Fonte: Canal Rural