A situação dos cafeicultores de Minas Gerais está cada vez pior. Muitos têm dívidas de mais de R$ 2 milhões e não sabem mais a quem recorrer. Outro fator que preocupa os pequenos produtores é a estiagem nas lavouras. Com perdas na produção, eles não têm o produto para vender justamente no momento em que os preços do café estão subindo.
Revoltados, produtores de café de mais de 130 cidades de Minas Gerais realizaram, nessa segunda, dia 17, protesto, ocuparam a Câmara Municipal em Manhumirim, interior do Estado, e criaram pautas para tentar salvar o setor da crise, que atingiu principalmente os pequenos produtores.
Envidados e sofrendo com os efeitos da seca, os produtores vêem os preços do café voltarem aos melhores patamares dos últimos anos, mas não dispõem de produto devido as sucessivas perdas nas lavouras.
Minas Gerais é o Estado mais importante par a cultura, e produz, ao todo, mais da metade de todo o café brasileiro. Em anos de boa safra, o produtor José Marques de Freitas já chegou a tirar mais de 3 mil sacas de 60 quilos com café das duas pequenas propriedades que ele tinha. O terreiro vivia cheio de funcionários, as lavouras vigorosas e o ânimo imbatível. Hoje o cenário é outro, o de abandono total. Não há mais galpões, nem produção, nem as plantas em alguns talhões. Afogado em dívidas e com 74 anos, o produtor lamenta o Estado da propriedade.
Das duas propriedades, uma Freitas entregou ao banco e mesmo assim permaneceu endividado. Hoje, o produtor que já empregou dezenas de pessoas, vive apenas com a aposentadoria, não sai mais de casa, e passa por grandes problemas financeiros; não consegue sequer visitar os filhos que estão longe, e que não quiseram permanecer na lavoura.
A situação do produtor foi piorando com as consecutivas baixas de preço do café, sempre abaixo do custo de produção. Sem dinheiro para reinvestir, tomava empréstimos no banco, acreditando que na safra seguinte conseguiria se recuperar. O que não aconteceu.
O drama de Freitas é semelhante a de muitos outros pequenos produtores de café pelo país. Por esse e outros motivos, cafeicultores de mais de 130 cidades mineiras protestarem nessa segunda em Manhumirim, interior de Minas Gerais.
Os produtores tomaram de forma pacífica a Câmara Municipal do município e aumentaram a lista de insatisfações do setor. Entre as principais pautas estão a renegociação das dívidas e a expansão dos prazos para os cafeicultores que não estão conseguindo enfrentar a crise e que acabam abandonando a atividade.
De acordo com os produtores, a resolução emitida pelo Banco Central, em novembro do ano passado, que permitia a renegociação das dívidas vencidas, entre 1º de julho de 2013 e 30 de junho de 2014, não atendia aos anseios de todos os cafeicultores, pois era necessário que todos eles se apresentassem às entidades financeiras até o dia 31 de janeiro deste ano, o que não aconteceu, pois eles já não possuíam mais a principal moeda de troca - as sacas de café - para fazerem a renegociação.
Segundo o presidente da Câmara Setorial do Café na Mata de Minas (MG), Admar Soares, isso foi um golpe.
- Essa resolução deveria ter saído em agosto. Daria tempo para os produtores renegociarem. Em novembro - quando finalmente foi emitida - eles já não tinham mais café pra vender, o que os deixou sem opção - declara Soares.
O presidente da Comissão do Café do Sul de Minas Gerais, Emídio Alves Madeira, acusa a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de manobra política para beneficiar os grandes produtores, o que acabou prejudicando os pequenos.
Outra reivindicação dos produtores é a política do preço mínimo do café para a saca com 60 quilos do grão, que deveria garantir pelo menos um valor igual ao custo de produção, estimado pelos cafeicultores em cerca de R$ 350. No ano passado, eles chegaram a comercializar essa mesma saca por cerca de R$ 160.
No pequeno município mineiro de Manhumirim, os produtores recolheram assinaturas de outros produtores, políticos e entidades representativas e agora querem engrossar o movimento para mobilizar o maior número de produtores de café no país.
Fonte: Canal Rural