As Forças Armadas da Ucrânia pediram ao presidente Viktor Yanukovich que tome "medidas urgentes" para estabilizar o país. O mandatário enfrenta há dois meses protestos da oposição, que pede sua renúncia após ele ter rejeitado um acordo com a União Europeia.
Em comunicado no site do Ministério da Defesa, os militares consideraram "inaceitável" a ocupação de prédios estatais e as tentativas de impedir o cumprimento das funções do Poder Executivo. Para as Forças Armadas, "a escalada de contestação ameaça a integridade territorial ucraniana".
Presidente Viktor Yanukovich - Foto: AFPOs movimentos de oposição ocupam desde dezembro a praça da Independência, em Kiev, com barracas e há duas semanas as sedes de dois ministérios e de governos regionais no oeste do país. Para tentar conter o avanço dos opositores, o governo chegou a aprovar uma lei punindo a invasão dos prédios estatais.
A medida fazia parte da lei contra os protestos que provocou a radicalização do movimento há duas semanas, o que gerou confronto com a polícia e cinco mortes. Na terça (28), a lei foi derrubada pelo Parlamento, como parte das concessões feitas pelo governo.
Além do fim da legislação, houve a renúncia do gabinete do primeiro-ministro Mykola Azarov e a aprovação de uma lei de anistia. A revogação da legislação que limitava os protestos e a lei de anistia foram promulgadas nesta sexta pelo presidente Viktor Yanukovich, que está em licença médica desde quinta.
No entanto, os manifestantes continuaram mobilizados porque não concordam em sair dos prédios públicos, condição colocada para liberar os opositores presos. A polícia afirma que prendeu 217 pessoas durante as manifestações da semana passada.
Nesta sexta, a ONG Human Rights Watch informou que houve 60 agressões a jornalistas e médicos durante os confrontos entre manifestantes e a polícia, entre os dias 19 e 22 de janeiro. Segundo a entidade, a maioria dos profissionais foi ferido pela polícia, apesar de estarem devidamente identificados.
Reunião
O chamado dos militares acontece um dia antes de uma reunião na Alemanha dos líderes opositores Vitali Klitschko e Arseni Yatseniuk com o secretário de Estado americano, John Kerry. Os dois ainda devem se encontrar com a chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Asthon.
Nesta sexta, Kerry disse que as concessões do presidente ucraniano aos manifestantes não são suficientes. Ele também manifestou o apoio de Barack Obama aos opositores e que, caso o governo ucraniano ofereça colaboração, eles devem aceitar essa oportunidade.
O anúncio da reunião causou irritação da Rússia, que já criticou outras vezes a interferência de americanos e europeus na crise política ucraniana. Em entrevista, o vice-primeiro-ministro Dmitri Rogozin afirmou que o encontro era um circo.
"E por que não convidaram o nazista Tyagnybok?", disse, em referência ao líder do partido nacionalista Svoboda, que é o mais radical das lideranças opositores e mantém as ocupações a prédios públicos. "A Casa Branca deveria ouvir e considerar sua opinião"
Fonte: Folha de São Paulo