Sob rumores de que esteja prestes a assumir um novo ministério em Brasília (falam em Casa Civil ou Educação), a ministra da Cultura, Marta Suplicy, lançou oficialmente ontem a operacionalização do Vale Cultura em São Paulo, com entrega simbólica de cartões magnéticos pré-pagos da bandeira Alelo. A empresa-modelo do sistema foi o Banco do Brasil, que tem 42 mil funcionários aptos a receber o benefício (28 mil já optaram pelo cartão, quase 10% de todos os trabalhadores que já aderiram no País).
O primeiro cartão magnético do Banco do Brasil foi solicitado pela bancária Andréia Teixeira, de 35 anos, funcionária da agência Gama Centro, nas imediações de Brasília. Ela, que gosta de literatura do Oriente Médio e acabou de ler O Caçador de Pipas (de Khaled Hosseini), disse que pretende comprar agora o livro Eu Sou Malala, da paquistanesa Malala Yousafzai, e que tem planos também de ver espetáculos do grupo de teatro G7, do Distrito Federal. "Vi que a gente podia acumular o dinheiro, mas eu não vou. Tenho vários planos", disse Andréia.
"Isso de certa forma surpreende. Ela vai comprar livro como primeira escolha. Muitas pessoas gostam de ler, mas leem livros emprestados. Outras nem entram na livraria, porque não podem comprar um livro de R$ 30, R$ 60", disse a ministra. Marta afirmou que "não se pode desprezar ou fazer pouco das pessoas que estão entrando (no sistema), elas sabem das coisas, e querem saber mais o que está acontecendo".
A expectativa do Banco do Brasil é que a empresa, de economia mista e que está presente em 70% dos municípios brasileiros, invista R$ 22,6 milhões no Vale Cultura este ano. Marta Suplicy disse que, por determinação da presidente Dilma Rousseff, a adesão de todas as estatais tornou-se obrigatória. Isso explica o número até agora de 1.253 empresas e 340.422 funcionários inscritos. Os pagamentos estão autorizados a partir do dia 31.
"O mais interessante do Vale Cultura é que nós não sabemos o que a população quer ver, no que a população vai gastar", disse Marta Suplicy. Mas a ministra se mostrou agradavelmente surpresa pela adesão de pequenas empresas com 4 a 8 funcionários. O benefício dá R$ 50 mensais para empregados que ganham até 5 salários mínimos gastarem com produtos culturais - o valor é cumulativo e o cartão é nominal. As empresas podem usar até 1% do seu lucro real.
A ministra ainda estimou que o Vale Cultura deve repercutir forte também na produção cultural. Ela disse que essa produção hoje tem um "cabresto", que está relacionado à lei de incentivo. "Se vai à Lei Rouanet, se é coisa muito ousada, é muito difícil conseguir, as pessoas têm medo de patrocinar. Com uma plateia Vale Cultura, vai ser uma grande oportunidade para dar musculatura a uma produção cultural que hoje não consegue se exercitar. Vai acontecer muita coisa além das nossas previsões."
A ministra disse que não teme eventuais desvirtuamentos de finalidade do Vale. Disse que isso pode ir sendo corrigido gradativamente. "Vocês lembram o Bolsa Família, no começo? As pessoas enchiam a geladeira de iogurte, gente. Porque era uma fome do que nunca puderam ter. Depois vai aprimorando no que precisa. E na cultura vai ser exatamente assim", afirmou.
"Tenho certeza que o Brasil dá um salto hoje", disse Paulo Ricci, vice-presidente do BB.
Fonte: Agência Estado
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