Quem vê o pequeno Davi Miguel, de cinco anos, correndo pelos corredores da Escola Municipal Aldo Prata, no City Petrópolis, em Franca (SP) e não sabe de sua luta pela vida, não imagina a doença rara que ele possui. Esperto, comunicativo, extrovertido e de personalidade, o garoto na maioria das vezes carrega um largo sorriso no rosto. Brinca, corre, anda e aponta na direção de tudo aquilo que lhe chama mais a atenção.
Prestes a comemorar aniversário (em 12 de março), ele começou a estudar. Entre outros colegas, caminha em direção à sala de aula. Mochila nas costas do seu ídolo, o Luccas Neto. Observa tudo por onde passa. Em classe, atento, descobre o fascinante mundo das letras brincando. Além das atividades pedagógicas, Davi se diverte assistindo o clipe da música “Sou o Príncipe Lu”. A canção, embora não tenha sido composta para o garoto de Franca, faz lembrar sua história no trecho: “Sou um menino corajoso e guerreiro / Meu amuleto é a espada da coragem / Quero explorar, viver aventuras e se precisar luto em nome do bem”.
Ele é acompanhado por uma profissional que lhe dá todo o suporte na sala de aula, que tem também outras crianças. Inicialmente é uma fase de acolhimento e não tem dificuldades em interagir com outros alunos. “Esta é a oportunidade do meu filho de se relacionar também com outras crianças porque em função do tratamento, ele sempre esteve ao lado de adultos”, conta a mãe Dinéa Gama.
Veja a chegada de Davi à escola:
Davi Miguel Silva Gama nasceu com 51 cm e pesando 3, 205 kilos. Logo no quinto dia de vida, ele foi internado com desidratação profunda. Havia perdido 500 gramas. Era o início de uma saga de incertezas e muitos medos. Foi transferido para o Hospital das Clínicas, em Ribeirão Preto (SP), onde passou por uma bateria de novos exames e após 42 dias de tratamento e sem nenhum diagnóstico, ele passou por uma biópsia eletrônica e endoscopia que apontaram o problema. A criança tem microvilosidades intestinais, conhecida como “diarreia intratável”. Em suma, o organismo dele não absorve nenhum tipo de nutriente e ele não se alimenta por via oral, mas por meio de um cateter.
Atualmente fazendo acompanhamento médico em São Paulo (SP) e morando em Franca (SP), Davi tem 1 metro de altura e pesa 18 quilos. Ele chegou a ser transferido para o Jackson Memorial Hospital, um dos mais importantes dos Estados Unidos, para que pudesse passar por um transplante lá, já que esta era a forma de minimizar o problema e buscar superar a doença. A cada dois meses passava por uma avaliação médica. Porém, sem evolução no tratamento, e com muitas limitações nas veias e artérias que impediam que ele passasse por uma cirurgia complicada como é a de um transplante, o garoto saiu da lista de espera. Em fevereiro do ano passado, após quatro anos morando no exterior, a justiça autorizou o regresso ao Brasil.
Neste tempo em que ficou longe da família, Dinéa não pôde se despedir da mãe, que morreu de complicações pulmonares; por outro lado nasceram os primos de Davi, Nícolas e Pedro. "A saudade da família e o acolhimento (uma característica do povo brasileiro) foram as duas coisas que mais sentimos falta", revela Dinéa. Ela também mostra o quanto se preocupou com o filho quando os médicos de Miami demonstraram desinteresse pelo caso do filho dela. "Eles queriam fazer o transplante. Quando as veias ficaram limitadas (e leva-se um longo tempo para surgirem novas), eles queriam que a gente retornasse logo para cá (o Brasil). Fiquei aliviada quando soube que a alimentação dele poderia ser pela parenteral", disse. A alimentação parenteral é uma concentração de nutrientes que vão diretos para o organismo da criança na veia.
A ida para os Estados Unidos foi possível graças a mobilização de familiares, amigos e muitos desconhecidos que se envolveram na campanha “Movidos Pela Vida”, iniciada poucos dias após o nascimento do garoto. Sem condições de custear o tratamento da criança, a família recorreu a ajuda de anônimos e famosos para levantar mais de R$ 1 milhão necessários para o transplante.
Rosi Matias Souza viu um outdoor da campanha “Movidos pela Vida” espalhado pela cidade e desde o início se encantou com a criança. Ela se tornou uma das inúmeras voluntárias para arrecadar o dinheiro necessário que possibilitasse a ida de Davi aos Estados Unidos. “Vendi inúmeras camisetas, agendas, fizemos vários bazares”, relembrou. Rosi também faz parte de um grupo que se reúne todas as segundas-feiras para rezar em prol do pequeno. “É o Terço do Davi Miguel. A cada semana peregrinamos de uma casa para outra de algum membro do terço para orarmos pela cura do Davi. Nós acreditamos no milagre”. Ela ainda chegou a estar com o pequeno Davi por três vezes seguidas em Miami (EUA). “Ele é puro amor, gera aproximidade entre as pessoas e união entre as famílias”.
Na página oficial no Facebook, o pequeno guerreiro, como é conhecido, tem 172.326 curtidas. No Instagram, possui 28,1 mil seguidores. Em um dos vídeos, ele aparece rezando. “Querido Deus, abençoe meu café da manhã, porque eu vou comer tudinho”.
Em setembro do ano passado, a criança visitou a Rádio Imperador e conheceu a redação do portal Pop Mundi. Ele participou ao vivo do programa Pop Mania. “Oi pessoal, tudo bem? Eu sou o Davi Miguel. Um beijo pra todo mundo”, disse. Ele é muito espontâneo e desde quando nasceu demonstra ser um garoto de personalidade. Em um dos inúmeros vídeos disponíveis na internet, ainda que incentivado pela mãe Dinéa Gama a fazer “cara feia” para Rocioli, Davi contraria o pedido da mãe. “Não, não vou fazer cara feia pra ele não”. Esta mesma espontaneidade chamou a atenção do padre Fábio de Melo que em seu perfil oficial no Instagram fez uma brincadeira com o vídeo da criança, quando a mãe do pequeno guerreiro lhe convida para caminhar e e ele responde: "Fazer o quê, né?!".
Relembre como foi:
Ainda que a medicina não admita para todos que acompanham sua vida sabem que ele já é um milagre.