Pacientes contraem HIV após transplantes no Rio; confira o que diz um especialista

Autor: Salomão Rodrigues

Fonte:

11/10/2024

A Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, SES-RJ, investiga a infecção de pacientes com HIV após transplantes de órgãos no estado. A contaminação teria ocorrido após erros em exames realizados pelo laboratório PCS Lab Saleme, em Nova Iguaçu, contratado pela SES-RJ em dezembro de 2023.

A situação foi descoberta em 10 de setembro, quando um paciente transplantado apresentou sintomas e testou positivo para HIV. Ele havia recebido um coração em janeiro e, após contraprova da SES-RJ, foi constatado que os exames do laboratório estavam incorretos. Outros receptores de órgãos também testaram positivo para o vírus. O laboratório foi interditado, e o caso é investigado pela Polícia Civil e pelo Ministério Público.

Com a repercussão da notícia, muita gente se perguntou se é permitido a doação de órgãos por portadores de HIV e quais os riscos envolvidos.

A equipe do PopMundi falou com o Dr. Rubens Pereira, infectologista e professor do curso de medicina na Unifran.

Afinal, pessoas com HIV podem doar sangue ou órgãos?
“Pacientes portadores de HIV não podem doar sangue, nem órgãos ou tecidos. Porque mesmo que a carga viral do paciente esteja zero e indetectável, ainda assim ele pode transmitir o vírus para o receptor. Normalmente os órgãos podem.”, afirma o médico.

Quais são os riscos associados a transplantes de órgãos com HIV?
“Normalmente os órgãos podem ser de doador vivo e doador cadáver e jamais nós podemos dar sequência em uma doação de órgãos quando o paciente de origem, o doador, seja HIV positivo”.

No caso de pacientes que receberam órgãos infectados, como parece ser o caso, qual protocolo deve ser seguido?
“Os pacientes que recebam um órgão, que não se acreditava que estava contaminado, depois descobrem que estão contaminados com HIV e adquiram o HIV, eles devem iniciar o tratamento imediatamente.”

O risco de transmissão do HIV por meio de transplantes de órgãos é raro? Já aconteceram casos assim antes no Brasil?

“O risco de transmissão de HIV por meio de transplante de órgãos são extremamente raros e esses casos que estão sendo documentados no Brasil agora são os primeiros, felizmente, esperamos que não ocorram mais”.

“Em todos os doadores, doador vivo ou doador cadáver, são feitos vários exames, inclusive o teste anti HIV, no entanto, excepcionalmente, pode falhar. E se documentar que esteja ocorrendo, obviamente, aqueles testes devem ser suspensos imediatamente.
Porque o desejável, obviamente, é que o teste não falhe e que, inclusive, seja feito mais de um teste para garantir que o HIV seja realmente negativo.”

“No entanto, excepcionalmente, como aconteceu agora, pode ocorrer a transmissão do HIV na doação de órgãos. Qual seria a explicação? Teste falso negativo. O teste deu negativo e não era verdadeiro, estava falso. Um erro laboratorial, por assim dizer. A outra possibilidade bem rara é chamada janela imunológica. Janela imunológica é se o paciente pegou o HIV, mas não deu prazo ainda do exame acusar que ele pegou o HIV. Uma rara eventualidade dele ter pegado o HIV, por exemplo, há duas semanas. Ele já pode transmitir, mas os testes vão dar negativo, presumivelmente.”, completa Dr. Rubens Pereira.

O caso recente de pacientes que contraíram HIV após transplantes no Rio de Janeiro é uma exceção e não reflete a segurança geral dos transplantes de órgãos no Brasil. O sistema de transplantes no país é rigorosamente regulamentado e fiscalizado por autoridades de saúde, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Central Nacional de Transplantes. Todos os órgãos doados passam por exames detalhados para garantir que estejam saudáveis e livres de doenças infecciosas, fazendo do Brasil um dos países com maior número de transplantes bem-sucedidos no mundo. Mais de 16 mil vidas já foram salvas desde 2006, demonstrando que o procedimento é seguro e confiável.

 Foto: Ministério da Saúde