Em uma decisão inédita nesta segunda-feira, 10, a Justiça da Espanha, pela primeira vez na história, condenou a oito meses de prisão três torcedores do Valencia Futebol Clube por ataques racistas ao jogador Vinicius Junior do Real Madrid durante uma partida em 2023 no estádio Mestalla.

Os condenados também terão que pagar multas e os custos do processo, além disso, estão proibidos de frequentar qualquer estádio de futebol por dois anos.

A condenação veio com base no crime de delito contra a integridade moral, agravado por agirem com motivações racistas. Antes da sentença, os três acusados leram uma carta pedindo desculpas ao jogador, à Liga espanhola e ao real Madri.

Relembre o caso
Os insultos contra o jogador se intensificaram aos quinze minutos do segundo tempo, quando o zagueiro Erai Comert cometeu uma falta contra Vini Jr.

Quando o jogador de se levantou, parte da torcida passou a ofendê-lo gritando a palavra “mono”, macaco em espanhol.

Nos acréscimos do segundo tempo, Vini Jr. reconheceu um dos torcedores e tentou denunciar para a arbitragem, o que causou mais desavença entre os dois times em campo.

O brasileiro chegou a levar um golpe mata-leão do jogador Hugo Duro, da equipe adversária, no meio da briga generalizada Vinicius acertou o rosto de Giorgi Mamardashvili e, embora também tenha sido agredido, só ele foi expulso da partida.

Repercussão Negativa
Embora o racismo no futebol não seja novidade na Espanha, o caso de Vini Jr. ganhou notoriedade pela polêmica envolvendo a inércia da La Liga, as tentativas dos clubes em esconder e deslegitimar as vítimas e até mesmo os ataques que o jogador brasileiro sofreu depois da ocasião pela própria imprensa espanhola que estampou manchetes o chamando de 'chorão mal-agradecido', 'tonto' e 'Pinóquio mentiroso'.

Houve, inclusive, dirigentes de clubes que exigiam que Vinicius Junior se desculpasse pela situação que causava prejuízo à imagem do futebol europeu.

A internet desempenhou papel importante no caso, já que a repercussão negativa para o campeonato levantou o debate em torno da impunidade do racismo no futebol e foi um dos assuntos mais comentados nas redes sociais de todo o mundo, inclusive com cobranças nas páginas oficiais dos clubes envolvidos, na página da La Liga e até mesmo nas páginas oficiais dos principais patrocinadores do campeonato.

Posicionamento

A defesa dos três acusados não se manifestou, até o momento da publicação deste texto, e não informou se vão recorrer da decisão.

Nesta segunda-feira, 10, após a condenação, Javier Tebas, presidente da La Liga, fez uma declaração ao jornal Marca que diz: “Esta sentença é uma ótima notícia para a luta contra o racismo na Espanha, pois repara os danos sofridos por Vinicius Junior e envia uma mensagem clara para aquelas pessoas que vão a um estádio de futebol para insultar que a La Liga irá detectá-los, denunciá-los e haverá consequências criminais.”

“Entendo que possa haver certa frustração pelo tempo que essas sentenças levam para serem proferidas, mas isso demonstra que a Espanha é um país garantista a nível judicial.”

O jogador publicou em suas redes sociais um comunicado que diz: “Muitos pediram para que eu ignorasse, outros tantos disseram que minha luta era em vão e que eu deveria apenas 'jogar futebol'.

Mas como sempre disse, não sou vítima de racismo. Eu sou algoz de racistas. Essa primeira condenação penal da história da Espanha não é por mim. É por todos os pretos.

Que os outros racistas tenham medo, vergonha e se escondam nas sombras. Caso contrário, estarei aqui para cobrar. Obrigado a La Liga e ao Real Madrid por ajudarem nessa condenação história. Vem mais por Aí”.

Foto: Reprodução/Reuters/GettiImages