Empresas de ônibus movimentaram milhões em lavagem de dinheiro

Autor: Salomão Rodrigues

Fonte:

10/04/2024

Nesta terça-feira, 9, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), a Polícia Militar, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) e a Receita Federal deflagraram a Operação Fim da Linha, cujo objetivo é desmantelar duas organizações criminosas que lavam recursos ilícitos do PCC provenientes do tráfico de drogas, roubos e outros delitos utilizando como intermédio a UpBus e a TW, duas empresas de ônibus responsáveis pelo transporte de cerca de quase 700 mil passageiros diariamente na maior cidade do país e que receberam de remuneração da Prefeitura de São Paulo mais de R$ 800 milhões só no ano de 2023.

Conforme o Ministério Público, a operação mobilizou 64 membros do MP SP, 43 integrantes da Receita Federal, empregando 20 viaturas, dois agentes do CADE e um efetivo de 340 policiais militares do Comando de Policiamento de Choque (1° BPChq, 2° BPChq, 3° BPChq, 4°BPChq, 5° BPChq e RPMon), utilizando 106 viaturas, bem como agentes do setor de inteligência da PM.

Ainda na terça-feira, 9, durante coletiva de imprensa, autoridades do Ministério Púbico de São Paulo, Receita Federal, Secretaria de Segurança de Estado da Segurança Pública, juntamente com a Polícia Militar, deram detalhes das investigações.

Segundo as informações, o esquema de lavagem de dinheiro obtido de forma ilícita pelo PCC eram usados na exploração no serviço de transporte público por ônibus na capital, por meio das empresas UpBus e Transwolf, responsáveis pelo transporte de quase 700 mil passageiros por dia na capital paulista.

Decorrente da Operação Sharks, a Fim da Linha cumpre mandados da 1ª e 2ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital, quatro mandados de prisão e 52 mandados de busca e apreensão.

 

Simultaneamente, a Justiça ordenou o bloqueio de R$ 600 milhões em patrimônio para garantir o pagamento por dano moral coletivo.

Quatro pessoas foram presas até o momento:

Robson Flares Lopes Pontes, diretor da Transwolf e foi preso na garagem da empresa.

Luiz Carlos Efigênio Pacheco, vulgo Pandora, é o dono da Transwolf e foi preso em casa.

Joelson, sócio e representante legal do escritório de contabilidade que, conforme mostram as investigações do MP, dava suporte ao esquema da Transwolf.

Elio Rodrigues dos Santos, preso em flagrante por posse ilegal de arma em um dos locais onde a polícia realizou mandado de busca e apreensão.

Outra pessoa envolvida no esquema está foragida, Silvio Luis Ferreira, vulgo Cebola, é sócio da UpBus.

As autoridades também apreenderam 11 armas, 813 munições, R$ 161 mil em dinheiro, computadores, pen drives e HDs, dólares e barras de ouro.

Em decorrência das investigações, a Prefeitura de São Paulo agora assume a operação tanto da UpBus que contar com 138 veículos em 13 linhas, quanto da Transwolf que possui 1.100 veículos operando em 100 linhas diferentes.

Ricardo Nunes, prefeito da capital paulista, nomeou dois servidores para garantirem a continuidade do serviço prestado.

As investigações ainda continuam e o próprio MP acredita na possibilidade de que outras empresas de transporte estejam envolvidas no esquema.

A infiltração de organizações criminosas no sistema público por via empresas prestadoras de serviços de transporte coletivo já é investigado desde o início dos anos 90.

Com o passar dos anos, utilizando-se das fragilidades dos processos licitatórios e da complexidade jurídica que os envolve, essas empresas foram conseguindo mais poder a medida que conseguiam novos contratos com o poder público, aumentando assim, sua capacidade de lavar dinheiro oriundo do crime.

No caso da UpBus, situação chegou a um ponto que grandes chefes da facção criminosa fazem parte da direção da empresa.

Investigados por homicídio, sequestro, tráfico de drogas e roubo a bancos, Claudio Marcos de Almeida, conhecido como Jango e Alexandre Salles Brito, vulgo Buiú, aparecem na lista de sócios da empresa.

Outra linha de investigação da Operação Fim da Linha aponta a possibilidade de essa organização criminosa ter participado do financiamento de campanhas eleitorais em municípios no estado de São Paulo, inclusive já foram registradas doações para campanhas de vereadores de vários partidos na capital paulista durante as eleições de 2020.

 

Foto: Divulgação/MPSP