Com o brasileiro mergulhando na internet, as empresas querem ir além do relacionamento com seus clientes e apostam nas redes sociais como ferramenta de venda. Navegando pelo Facebook, por exemplo, é possível comprar de tudo: de panos de prato personalizados a equipamentos para pesca. A variedade de produtos fica distribuída entre milhares de "lojistas", que se organizam de maneiras diferentes. A maioria ainda usa a rede apenas como vitrine, onde iniciam a comercialização, que é fechada via depósitos bancários. Outros - cerca de 70 mil lojistas - optam pelo social commerce, que utiliza plataformas onde as compras são fechadas na própria rede. O publicitário Guilherme Silveira está entre os consumidores que começam a apostar na compra via rede social. No entanto, ainda é cauteloso e opta por ofertas de pessoas físicas, mas sempre tomando cuidado com perfis falsos para não ser surpreendido e perder dinheiro. "As ofertas estão sempre na nossa timeline. Já comprei ingresso para uma festa e, por duas vezes, comprei uma vodca importada em uma página de bebidas", lembra. Nos dois casos, segundo ele, a aquisição foi arriscada, mas teve como diferencial o preço atrativo. "Compro, mas dependo de pessoas e referências para isso, já que considero as formas de pagamento via Facebook ainda precárias", afirma.
Embora seja pouco conhecido pelo consumidor brasileiro, o modelo social commerce já é uma realidade em países como Estados Unidos. Inspirada nos serviços prestados pela Payvment, principal fornecedora de tecnologia para lojas no Facebook no mercado americano, a LikeStore, que tem entre os sócios o mineiro Ricardo Grandinetti, reúne 24 mil lojas, responsáveis por 5 mil transações mensais. Com o sistema de criação da loja gratuito, a empresa fatura cobrando 2% sobre as vendas. "Na rede social há muita informação de graça para essas empresas o que torna esse tipo de venda interessante", explica Grandinetti. De acordo com ele, a estimativa é que o social commerce movimente hoje cerca de R$ 100 milhões por ano. Até 2018, a expectativa é de que o modelo responda por 6% do e-commerce, com R$ 1,8 bilhão em transações. Entre as justificativas para o crescimento da ferramenta, ele destaca a importância dos canais sociais e das informações geradas. "Quem compra na LikeStore, por exemplo, tem seu perfil e dados importantes gravados, não para envio de spam, mas para que um banco de dados seja criado e as vendas sejam mais assertivas", lembra. Já o Facíleme, que também funciona como um aplicativo para a criação de lojas virtuais no Facebook, tem crescido 10% ao mês impulsionado pelas vendas cada vez mais comuns nas redes sociais. Segundo a sócia-fundadora Cynthia Akao, são mais de 60 lojas cadastradas todos os dias, num total de 28 mil lojas de diversos segmentos. "Entre os benefícios está a segurança do consumidor que pode comprar pelo feed e pagar pelo sistema PagSeguro", comenta. Para o lojista, ela destaca o acesso a ferramentas de sorteio, criação de formulários por um custo que vai de R$ 50 (mensalidade) a R$ 210 (trimestrais). Para vender utilizando o sistema PagSeguro, no entanto, o vendedor precisa arcar também com taxa de 4,99% mais R$ 0,40 por transação. "Nosso desafio é manter o crescimento considerando entrada, mas também saídas de lojas, que são frequentes", lembra. Hellen Oliveira, sócia da loja Top Fitness, que tem quatro unidades físicas em Juiz de Fora, optou pelo Facebook para expandir suas vendas. A ideia veio ao perceber que gastaria de R$ 7 mil a R$ 10 mil para montar uma loja on-line. "Hoje eu pago R$ 210 por trimestre e estou onde minha clientela está", ressalta. As vendas a distância, de acordo com ela, eram feitas muitas vezes por clientes que já conheciam o produto e ligavam para a loja. Agora, vende para o interior de Minas e São Paulo, além do Distrito Federal e Rio de Janeiro. "Estou vendendo 50% a mais do que fazia via depósito bancário. A formalidade da loja, que é parceira do Pagseguro, me trouxe mais clientes", comemora. Novidade no Instagram Descoberto por lojas de diversos segmentos, principalmente de vestuário, calçados e acessórios, o Instagram também ganhou uma plataforma para estimular as vendas. De forma pioneira a startup Arco desenvolveu uma sistema onde o cliente faz aquisições sem precisar sair da rede. A transação pode ser finalizada quando o consumidor comenta "comprar" em uma das fotos das lojas cadastradas. Para comprar ou vender, no entanto, é preciso que lojista e cliente se associem ao sistema Arco tanto o perfil no Instagram quanto suas contas no Paypal. A compra facilitada ocorre porque o sistema liga automaticamente as contas do Paypal dos clientes às das lojas. De acordo com a sócia-fundadora do Arco, Luciana Obniski, em dois meses de atividade são mais de 40 lojas cadastradas e 20 pedidos por dia. Entre os diferenciais do serviço, que ainda está em fase de testes, está a chance de comprar em lojas confiáveis, escolhidas com a curadoria das sócias. "A escolha não tem a ver com o número de seguidores, mas com a interação da loja com eles e oferta de produtos relevantes", conta. "Percebemos a falta de zelo com a experiência de compra do usuário e, por isso, estamos mais preocupados com o consumidor, se essa compra de fato facilitou a sua vida", acrescenta. Para capitalizar o negócio, o Arco cobra do vendedor 5,5% sobre as transações, uma taxa também é cobrada pelo Paypal. Proprietárias da marca mineira Adô Adelier, especializada em acessórios, bolsas e peças utilitárias, Tatiana Azzi e Fernanda Dubal foram as primeiras a se arriscar no sistema, que funciona há pouco mais de um mês. Isso porque, para elas, era preciso ir além da loja on-line. "Ter loja virtual é muito básico. Entendemos que era preciso estar onde os nossos clientes estão e, por isso, fomos para o Facebook, mas também para o Instagram", afirma Tatiana. Diversificar os canais, segundo ela, trouxe como benefício vendas para lugares novos como Roraima e Tocantins. "São locais que a gente nunca atingiria se não tivéssemos adaptado a nossa ferramenta de venda", afirma a empresária.
Fonte: Estado de Minas