O ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi obrigou ontem os ministros de seu partido, Povo da Liberdade (PDL), que fazem parte da coalizão governista, a renunciar, o que, na prática, derruba o governo do atual premiê, Enrico Letta, e mergulha a terceira maior economia da Europa em novo caos político.
O anúncio, que provavelmente resultará em novas eleições ou na formação de uma nova coalizão, veio um dia depois que Letta desafiou o PDL e Berlusconi a apoiá-lo em um voto de confiança no Parlamento após semanas de tensão.
Letta terá agora pouco tempo para tentar formar uma nova coalizão e evitar a convocação de novas eleições, sete meses após a última votação e cinco meses depois que o primeiro-ministro assumiu o cargo.
Na sexta-feira, o gabinete de Letta fracassou ao tentar chegar a um acordo sobre medidas fiscais vitais para trazer o déficit orçamentário dentro dos limites da União Europeia, deixando a frágil coalizão de rivais tradicionais da esquerda e da direita perto do colapso total.
As tensões entre os dois lados vinham aumentando com os pedidos para expulsar Berlusconi do Senado após sua condenação por fraude fiscal, no mês passado.
"A decisão tomada pelo primeiro-ministro Enrico Letta, de congelar as atividades do governo, é uma grave violação dos pactos sobre os quais o governo foi formado", disse Berlusconi, em um comunicado.
Letta respondeu, acusando o ex-premiê de "mentir" aos italianos ao afirmar que a falha do gabinete em aprovar medidas para evitar o aumento de impostos foi a razão de ele ter deixado o governo. "Para justificar a atitude irresponsável tomada hoje (ontem), com a meta de atender exclusivamente a seus assuntos pessoais, Berlusconi está tentando distorcer a realidade, usando o imposto como um álibi", disse Letta.
Para o atual premiê, Berlusconi quer "humilhar a Itália" e sabotar seu governo. "Não estou disposto a continuar sem um esclarecimento. Ou avançamos e colocamos o país e o interesse dos cidadãos acima de tudo ou então paramos."
A renúncia dos ministros de Berlusconi deve atrasar ainda mais as importantes reformas na Itália, que luta contra uma recessão de dois anos, uma dívida pública de mais de 2 trilhões de euros e uma taxa de desemprego entre os jovens de cerca de 40%.
A turbulência política tem preocupado cada vez mais os investidores internacionais, embora esteja havendo menos pânico do que em crises anteriores em razão das garantias de estabilidade dadas pelo Banco Central Europeu. /
Fonte: O Estado de São Paulo
* Com informações REUTERS e AP