Exatos 50 anos depois, os municípios de Mantena (MG) e Barra de São Francisco (ES) se uniram, neste domingo (15/09), para reafirmar o pacto de paz entre Minas Gerais e Espírito Santo, com o fim do Conflito do Contestado, momento histórico importante para o processo de unidade nacional, mas ainda pouco conhecido da população de ambos os estados. A cerimônia aconteceu no povoado mineiro do Bananal, na divisa e, como ocorreu há cinco décadas, voltou a contar com a presença dos governadores das duas unidades da federação: Antonio Anastasia (Minas Gerais) e Renato Casagrande (Espírito Santo).
Para o governador Antonio Anastasia, as comemorações do acordo, que selou a amizade entre Minas Gerais e o Espírito Santo, acontecem em um momento de integração social, econômico e cultural entre os dois estados.
"Estamos comemorando aqui o cinquentenário de um acordo celebrado para por fim a uma questão de divisas e este é um momento de integração muito forte das economias dos dois estados. Temos não só na cafeicultura, mas também nas pedras ornamentais, na produção do aço, pontos muito convergentes das nossas economias, como também no turismo e, é claro, na identidade cultural. Acho importante essa celebração que, de fato, não só rememoramos o que aconteceu no passado, mas consolidamos as bases de uma cooperação sempre integrados para a frente", afirmou Anastasia.
Já o governador Renato Casagrande disse que a atual relação harmoniosa entre os dois estados reafirma a paz de dois povos que se identificam. "A relação entre Minas e o Espirito Santo sempre foi muito reconhecida entre nós capixabas. São dois povos que se identificam muito. Recebemos sempre os mineiros no verão e também visitamos as cidades mineiras. Estamos aqui celebrando esse acordo para reafirmar que a paz é a direção que seguiremos nos próximos anos e décadas", ressaltou.
Novo marco
Acompanhados dos prefeitos Wanderson Elizeu Coelho (Mantena) e Luciano Pereira (Barra de São Francisco), Anastasia e Casagrande plantaram muda de árvores, fizeram o desenlace de fita e o descerramento de placa de inauguração do novo monumento erguido ao lado da estrutura implantada 50 anos atrás, que celebrou o Acordo de Paz, em 15 de setembro 1963, assinado pelos governadores Magalhães Pinto (MG) e Lacerda de Aguiar (ES). O marco em granito maciço tem nove metros de altura e pesa cerca de 50 toneladas. A área onde estão as duas construções também foi urbanizada, transformada em um Memorial onde predominam as principais alusões aos dois estados: as montanhas de Minas e as ondas do mar capixaba. Até mesmo as cores do piso de toda a praça remetem às duas unidades da federação.
Durante a cerimônia, Antonio Anastasia e Renato Casagrande receberam títulos de cidadão dos respectivos municípios, fizeram a troca simbólica da bandeira entre os dois estados e receberam uma placa e uma escultura com o símbolo de 50 anos do fim do Contestado.
Um selo comemorativo ao cinquentenário do fim do conflito foi entregue aos representantes de 25 famílias de Mantena e Barra de São Francisco. Ex-prefeitos também foram homenageados com uma placa alusiva ao fato histórico. Outro destaque da programação foi exposição de várias fotos, depoimentos em vídeo e objetos da época.
O prefeito de Mantena, Wanderson Elizeu Coelho disse que lembrar os 50 anos do Contestado é reafirmar a comunhão entre os povos de Minas e do Espírito Santo. Ele também fez questão de homenagear as famílias que perderam entes queridos no conflito. Segundo o prefeito, eles pagaram com o próprio sangue "para que hoje nos tivéssemos paz".
Conflito do Contestado
O motivo do Conflito foi a disputa por uma área rica em plantações de café, o Contestado, de aproximadamente 10 mil quilômetros quadrados, pouco maior do que a Região Metropolitana de Belo Horizonte, localizada na divisa dos dois estados. A briga pelos limites teve seu ponto principal em Mantena, no Vale do Rio Doce, a 450 quilômetros de Belo Horizonte, e em Barra de São Francisco, no noroeste do Espírito Santo.
Considerada uma verdadeira "Babel jurisdicional", tem suas raízes mais profundas, em 8 de outubro de 1800, quando foi instituído um auto de demarcação, motivado pela abertura do Rio Doce à navegação, que determinava a instalação de um posto fiscal para evitar a comercialização clandestina de ouro e diamante de Minas. Um século depois, em 18 de outubro de 1904, os dois estados adotaram como linha divisória, ao norte do Rio Doce, a Serra dos Aimorés ou do Souza, que, com o tempo e confusão de denominações, se tornou o real pomo da discórdia.
As tropas de prontidão que vieram das capitais e permaneceram por longo período em Mantena e Barra de São Francisco chegaram a se estranhar, mas não partiram para o combate. Um evento dessa magnitude só teve similaridade no Sul do Brasil, quando ocorreu a Guerra do Contestado, entre 1912 e 1916, conflito armado entre a população cabocla e os representantes do poder estadual e federal brasileiro, numa região rica em erva-mate e madeira, disputada pelos estados do Paraná e de Santa Catarina. Ou seja, quatro anos de conflito contra mais de meio século contabilizado entre Minas Gerais e Espírito Santo. Depois de décadas de litígio, ambos os estados, pelas mãos dos governadores Magalhães Pinto (Minas Gerais) e Lacerda de Aguiar (Espírito Santo) assinaram um acordo de paz que deu fim ao imbróglio político-militar que levou dezenas de vidas, de ambos os lados.
Assoleste
Após a solenidade no povoado de Bananal, o governador Anastasia seguiu para a sede da Associação dos Municípios da Microrregião do Leste de Minas (Assoleste), no centro de Mantena, onde participou da inauguração oficial do Auditório Deputado José Henrique Lisboa Rosa. A solenidade foi uma homenagem a Zé Henrique, falecido recentemente e que foi um dos defensores do associativismo municipal. Em 2001, o político participou ativamente da constituição da Assoleste.
Ao lado do presidente da associação, prefeito de Mantena Wanderson Elizeu Coelho, dos prefeitos que integram a associação e da viúva do homenageado, Joceli Barreiros Laviolla, Antonio Anastasia descerrou a placa que dá nome ao auditório da Assoleste.
A sede da associação foi construída com recursos do Governo de Minas, por meio de um projeto, iniciado em 2010, que repassou a cada uma das 42 associações de municípios cerca de R$ 800 mil, em parcela única, para aplicar na modernização da infraestrutura de atendimento às prefeituras. A nova sede da Assoleste é o ponto de encontro das 13 prefeituras que integram a associação: Central de Minas, Cuparaque, Divino das Laranjeiras, Goiabeira, Itabirinha, Mantena, Mendes Pimentel, Nova Belém, Nova Módica, São Félix de Minas, São Geraldo do Baixio, São João do Manteninha e São José do Divino.
Fonte: Agência Minas