Os países em desenvolvimento precisarão reconsiderar, no longo prazo, as estratégias de crescimento para reduzir a importância das exportações, já que os desenvolvidos deverão enfrentar um período prolongado de expansão lenta, recomenda o Relatório de Comércio e Desenvolvimento 2013 da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, divulgado quinta-feira (12) pela ONU.
"Com maior integração entre as economias, os estímulos gerados pelo crescimento de um país se tornam incentivos ao crescimento dos outros", disse o professor do Instituto de Economia da Unicamp Antonio Carlos Macedo e Silva, que apresentou o relatório. Segundo ele, é preciso dar mais crédito ao setor produtivo no plano nacional e internacional.
Antes da crise econômica, o mercado aquecido dos países desenvolvidos permitia importar manufaturados de outros países na mesma situação, mas industrializados, que, por sua vez, compravam produtos primários de outras nações em desenvolvimento, em um modelo que, de acordo com o relatório, era insustentável. No novo cenário, as economias mais desenvolvidas frearam as taxas de crescimento e os formuladores de políticas precisarão dar mais peso à demanda doméstica, política que já vem sendo adotadas por países como o Brasil e China, ressaltou o professor.
A busca conjunta desse objetivo, diz o relatório, pode fortalecer a opção de comércio regional Sul-Sul, tornando os mercados consumidores dos países em desenvolvimento mais receptivos às exportações deles próprios.
O relatório da ONU rebate um argumento muito comum, o de que a demanda interna dos países em desenvolvimento é insuficiente para tornar viável esse tipo de política, afirmando que o crescimento da classe média em países emergentes e populosos pode ser suficiente para aumentar o consumo privado e compensar o declínio da demanda dos desenvolvidos. De acordo com Macedo e Silva, na próxima década, 2 bilhões de pessoas devem entrar na classe média nos países em desenvolvimento.
A mudança econômica necessária para o novo foco requer, inicialmente, o aumento do poder de compra doméstico e equílibrio no consumo das famílias, do investimento privado e dos gastos públicos. O professor ressaltou que, na política exportadora, o aspecto de custo dos salários tem sido enfatizado, mas, num cenário com papel maior da demanda doméstica, em que o consumo das famílias é o principal componente, o aspecto do salário como renda poderia ganhar mais destaque.
Conforme o relatório, impulsionar a demanda interna com facilitação ao crédito de consumo pode levar, entretanto, a um endividamento excessivo e à falência das famílias, como ocorreu em países desenvolvidos. Um caminho mais seguro poderia ser o aumento do emprego público e do investimento em empresas, com mudanças na estrutura tributária e na composição das despesas públicas para distribuir o poder de compra. Com o aumento da demanda, acrescenta o relatório, empresários se sentiriam estimulados a investir no aumento da capacidade produtiva.
Aos países dependentes de commodities, o estudo pede cuidado ao avaliar se os preços estão em "superciclo" e, caso estejam, em que ponto do ciclo. Apesar disso, o relatório considera improvável o colapso no preço das commodities ou o rápido retorno a uma tendência de deterioração. O relatório da ONU recomenda, nesse caso, usar a renda obtida com recursos naturais para reduzir desigualdades e estimular produção industrial.
Fonte: Agência Brasil