A Unicamp passará a oferecer uma pós-graduação em história da arte não-europeia, o primeiro curso do tipo no Brasil, a partir de 2014. A seleção de estudantes deve começar já neste semestre, disse ao Jornal da Unicamp a professora Claudia Valladão Mattos, do Instituto de Artes (IA) e do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH).
O estudo da história da arte produzida fora da tradição europeia é uma tendência que vem se consolidando em várias partes do mundo, explica Claudia. "Nos últimos dez anos, mais ou menos, os cursos de história da arte no exterior passaram a expandir seus currículos e a contratar professores que trabalham fora da tradição europeia. Isso cada vez mais acontece nos grandes centros".
O programa de história da arte da Unicamp, estabelecido há duas décadas, trabalha, tradicionalmente, com duas linhas de pesquisa: Estudos da Tradição Clássica e Arte Moderna e Contemporânea. A pesquisadora diz que o Brasil está numa posição especial para ampliar esse leque: "Este é um país onde existe um legado cultural que vai muito além do desenvolvimento de uma arte europeia transplantada para o Brasil". O novo programa tratará de Arte Pré-Colombiana e Ameríndia, Arte Africana, Teoria da Arte e Arte Japonesa. A Arte Africana tratará não apenas da arte afro-brasileira, mas também e principalmente da produção tradicional e contemporânea daquele continente.
"Já existe uma grande coleção de obras afro-brasileiras no Museu Afro-brasileiro no Ibirapuera em São Paulo. Uma coleção excepcional", disse a professora. "Mas não existem coleções públicas de arte africana no Brasil. E para entender a arte afro-brasileira, é muito importante a gente começar a pesquisar e entender o que de fato é essa produção na África. Quais são os grupos, quais as manifestações artísticas, e desenvolver isso".
A parte do programa de história da arte não-europeia dedicada à História da Arte Pré-Colombiana e à História da Arte Africana terá como base material inicial a coleção doada à Unicamp pelo físico Rogério César de Cerqueira Leite, composta por cerca de 500 peças africanas e 200 pré-colombianas. A arte japonesa foi incluída por conta da importância da cultura japonesa dentro do Estado de São Paulo. "Como professora de História da Arte, sempre recebo essa demanda", explica a pesquisadora. "Os alunos gostariam de saber mais sobre arte japonesa. No Instituto de Artes, por exemplo, temos uma proporção significativa de estudantes de origem asiática. Esse foi um dos motivos para a gente desenvolver essa terceira linha."
Já a Teoria da Arte entra no cardápio para garantir o vínculo entre as diversas linhas. "A ideia da Teoria da Arte é justamente pensar como lidar com esse novo campo, como trabalhar com arte não-europeia dentro do campo de uma história da arte crítica", disse Cláudia. "Porque a história da arte, enquanto disciplina, desenvolveu-se vinculada à tradição clássica, e àquilo que se costuma chamar de arte elevada, digna de figurar em museus." Apontando para os catálogos da coleção de Cerqueira Leite, ela acrescenta que "tudo isso aqui não era arte. Não era considerado arte no século 19, quando a disciplina se desenvolveu".
Esse novo programa de pós-graduação está sendo montado por cinco professores que serão os orientadores principais - com os professores estrangeiros como coorientadores - dos alunos matriculados. "Temos a esperança de que, com o apoio internacional e o caráter inovador, consigamos, no futuro, pelo menos um novo professor especialista", finalizou Cláudia.
Fonte: Jornal da Unicamp