As autoridades da China mantêm sob férreo controle a residência do falecido ganhador do prêmio Nobel da Paz, Liu Xiaobo, e de sua viúva, Liu Xia, em Pequim, com vários agentes de segurança e um furgão policial em frente ao local, segundo constatou hoje (17) a Agência EFE.
Por enquanto, não se sabe onde a viúva está, e seu frágil estado de saúde preocupa seus amigos e familiares próximos, mas sua moradia em Pequim está sob estrita vigilância.
Vários repórteres tentaram ter acesso hoje a seu apartamento, mas foram bloqueados por um jovem em frente à entrada do edifício, que não se identificou e pediu aos jornalistas que solicitassem uma autorização ao pessoal responsável pelo condomínio.
Ao perguntar por que era necessário uma autorização para entrar no recinto, quando no restante do condomínio a entrada é livre, o jovem afirmou que era um “apartamento privado”.
Depois, vários homens, que disseram pertencer à administração do condomínio (a maioria deles sem uniforme), ameaçaram os jornalistas e exigiram que eles apagassem as imagens que tinham feito deles e da parte externa do edifício. Os homens seguraram os jornalistas e os empurraram, antes de chamarem a polícia, e os agentes retiveram os repórteres durante meia hora para verificar suas credenciais.
Os integrantes das forças da ordem afirmaram que era necessária uma autorização especial para ter acesso ao edifício e exigiram que os jornalistas pedissem desculpas aos “seguranças” pelas fotografias. Ao ser questionada pela violência com que o caso foi tratado, a polícia insistiu que os repórteres estavam trabalhando de “forma ilegal” e que o grupo só estava “se defendendo” para proteger sua imagem.
A intimidação e perseguição aos jornalistas que estiveram cobrindo o caso do Nobel da Paz Liu Xiaobo, morto na última quinta-feira (17), foram uma constante, segundo denunciou em um recente comunicado o Clube de Correspondentes Estrangeiros da China.
Na cidade de Shenyang, onde o Nobel faleceu, vários homens seguiam cada jornalista que tinha se deslocado à cidade para cobrir o caso, até quando estes iam ao banheiro ou saiam para jantar, praticamente as 24 horas do dia.
Liu Xia, a viúva do Nobel e intelectual chinês, passou os últimos sete anos em prisão domiciliar sem ter sido acusada de nenhum crime e, neste período, tampouco foi permitida a visita de jornalistas e amigos a sua casa.
Após a morte do seu marido, um símbolo da luta pela democracia, seu círculo mais próximo teme agora que o regime continue submetendo Liu Xia a estrita vigilância para que não fale sobre o ocorrido.
Amigos próximos da família asseguram que estão há dias sem poder fazer contato com ela. A última vez que Liu Xia foi vista em público foi no sábado (15), na realização do funeral de Liu Xiaobo.
As autoridades informaram sobre a breve cerimônia que foi realizada para se despedir pela última vez do Nobel da Paz e mostraram várias fotografias de sua viúva junto à urna mortuária e no momento de lançar as cinzas ao mar.
Nelas, Liu Xia aparecia em um estado fragilizado, tendo que ser sustentada por outros, e notavelmente abalada.
Seus amigos e familiares mais próximos acreditam que as autoridades impuseram que o Nobel teria suas cinzas lançadas ao mar – uma prática pouco comum na China – para evitar a existência de um túmulo onde as pessoas poderiam rememorar sua batalha pacífica pela liberdade.