Dupla Prettos faz azeitadas misturas com o samba em Essência da origem

Autor: Redação Pop Mundi

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01/01/2000
"De quem é merecedor / Ninguém vai tirar", cantam Magnu Sousá e Maurílio de Oliveira no refrão de Alegria e fé, o partido alto arranjado com inventividade que abre o primeiro álbutm da dupla, Essência da origem, disponível em edição em CD distribuída via Tratore neste mês de março de 2017 (a edição digital saiu em 17 de fevereiro). O refrão pode bem ser entendido como recado para quem não deu o devido valor ao extinto Quinteto em Branco e Preto, o melhor grupo de samba da cidade de São Paulo (SP). Irmãos de sangue e de fé no samba, Magnu e Maurílio estiveram à frente do Quinteto nos anos 2000, mais precisamente até 2014. Encerrada a saga do grupo, eles formaram a dupla intitulada Prettos, cujo nome também parece mandar recado a quem não dá o devido respeito e valor aos negros como bambas do samba. Mas não há mágoas no tom álbum. Pautado pelo alto astral, Essência da origem é, em essência, um disco de samba, como mostram as 12 músicas, sendo 11 compostas por Magnu Sousá e Maurílio de Oliveira em dupla e/ou com parceiros eventuais (a exceção é a criativa Tenho fé, composição da lavra de Marcelo Mattos e Peu Cavalcanti). Alguns sambas têm a cadência mais tradicional do gênero, casos de Deixa cair e de Sem marcas de dor, tema romântico composto em 1994 e somente apresentado pelos Prettos em janeiro deste ano de 2017 como o primeiro single do primeiro álbum da dupla. Pagode que culmina em versos à moda típica do partido alto, Samba pra geral (Magnu Sousá, Maurílio Oliveira e Billy SP), por exemplo, soa como carta de princípios da devoção da dupla ao samba. Mas sem fechar os ouvidos para os sons do universo pop. Contudo, Essência da origem jamais deve ser ouvido como ortodoxo disco de samba. O som do berrante ouvido na introdução da faixa-título Essência da origem, por exemplo, leva o álbum para o Brasil rural na batida do baião que reverencia o homem do campo sem se afastar totalmente da cadência do samba. Soul to soul (Magnu Sousá, Maurílio Oliveira e Paquera) concilia naturalmente suingue black norte-americano com o balanço afro-brasileiro do samba. Já Cai fora evoca a bossa do sambalanço, com influência do jazz, evidenciando a alta qualidade do repertório autoral. As batidas fora do quintal do samba, como os tons caribenhos do explícito Sambolatino, são inseridas com tal espontaneidade que a entrada de Emicida em Cundun (samba que evoca a cadência manemolente da obra de Martinho da Vila) se ajusta logo ao espírito do samba miscigenado dos Prettos. Com a prosódia dos rappers, Emicida dá voz a Coração (Samba anatômico) (Noel Rosa, 1931), samba das antigas. Já Marabaixo, faixa de suingue contagiante, põe o tambor de crioula do Maranhão na mistura plural do samba dos Prettos. No fim, tudo acaba na apoteose do samba O amor está aqui, ode à resistência do amor que também pode ser entendida como uma declaração de resistência dos Prettos, diretores artísticos e musicais do disco. Magnu Sousá e Maurílio de Oliveira não vão deixar ninguém tirar o que eles merecem pela militância no universo do samba, ora renovado com misturas azeitadas neste excelente primeiro álbum da dupla Prettos. (Cotação: * * * * *) (Crédito da imagem: capa do álbum Essência da origem, da dupla Prettos)