Dezenas de amigos, parentes, personalidades do meio artístico e, principalmente, fãs, ocuparam, neste sábado (14), o saguão do Teatro João Caetano, na Praça Tiradentes, no centro do Rio, para prestar a última homenagem à cantora e atriz Marlene. A estrela da era de ouro do rádio brasileiro morreu no final da tarde de sexta-feira (13), no Hospital Casa de Portugal, no Rio Comprido, zona norte da cidade, de falência múltipla dos órgãos.
Muito emocionado, o filho único da cantora, Sérgio Henrique Bonaiutti, disse que "o Brasil perdeu uma grande estrela, e eu a mãe que tanto admirava". A emoção também tomava conta dos veteranos integrantes dos fã-clubes da cantora, como a Associação Marlenista e o Fã-Clube Marlene. Portando fotos antigas da estrela e os estandartes das agremiações, eles se posicionaram em volta do caixão para reverenciar o ídolo.
Membro da Associação Marlenista, José Ramalho lembrou que até sofrer uma fratura no fêmur, há cerca de três anos, Marlene permanecia ativa. A última gravação foi em 2007, o CD e o DVD Marlene, a Rainha e os Artistas do Rádio, gravado no auditório da Rádio Nacional, no Edifício A Noite, na Praça Mauá, e lançado com um show da cantora na hoje extinta loja de discos Modern Sound, em Copacabana.
"Mesmo com o afastamento dela, nós nunca deixamos de homenageá-la todos os anos, em seu aniversário, 22 de novembro", contou Ramalho. "No ano passado, comemoramos a data aqui mesmo no João Caetano, com as cantoras Ellen de Lima, Sonia Delfino e Doris Monteiro interpretando o repertório de Marlene. Agora, estamos lutando por uma nova edição do DVD, porque a primeira, patrocinada pela Petrobras, está esgotada", disse o veterano fã.
Presente ao velório, o historiador da música popular brasileira Ricardo Cravo Albin destacou a qualidade da discografia da cantora. Fundador do Museu da Imagem e do Som (MIS), Albin dirigia a instituição quando Marlene estrelou em 1968, no então Teatro Casa Grande, o show Carnavália, de Sidney Miller e Paulo Afonso Grisolli e dirigido pela cronista Eneida, com a participação ainda dos cantores Nuno Roland e Blecaute.
"Com os poucos recursos tecnológicos que o museu tinha na época, fizemos a gravação integral do espetáculo, em apenas dois canais, e editamos em dois LPs. À parte os sucessos avulsos, o show e o disco constituem o que Marlene fêz de mais importante em matéria de carnaval", disse Albin.
Coautora, juntamente com o jornalista Sérgio Cabral, do musical Sassaricando, que reviveu as marchinhas de carnaval, a atual diretora do MIS, Rosa Maria Araújo, lembrou a versatilidade de Marlene como artista. "Ela era uma cantora múltipla. Não se negava a nenhum gênero, ia da marchinha, ao samba canção, às músicas dramáticas. Tanto que o show dela com Edith Piaf no Olympia de Paris foi um sucesso. Talvez tenha sido a única cantora que atravessou todas as fases da música brasileira, a do rádio, a do teatro, a da boate e a da televisão. Ela conseguiu estar em tudo isso, sempre com muito brilho, porque era uma atriz, uma cantora completa que se expressava com o corpo, com a face, com uma voz muito peculiar", ressaltou Rosa Maria.
Por volta das 15h, o velório foi encerrado e o corpo seguiu para a cremação no Memorial do Carmo, no Cemitério do Caju, em cerimônia reservada à família. O filho Sérgio informou que as cinzas serão jogadas na Baía de Guanabara, atendendo a um desejo da cantora.
Fonte: Agência Brasil