O presidente de Cuba, Raúl Castro, cumpriu a ameaça que fez - em tom de brincadeira - ao iniciar seu discurso, sábado (11) na sétima Cúpula das Américas: falou durante cinquenta minutos (muito além do combinado) para compensar o silencio nas seis cúpulas anteriores. Era a primeira vez que um líder cubano participava da conferencia hemisférica, realizada a cada três anos, desde 1994, e ele aproveitou para elogiar o presidente norte-americano, Barack Obama.
"Já era hora de me deixar falar. Fiz um grande esforço para reduzir meu discurso, mas como vocês me devem seis cúpulas, pedi uns minutinhos mais", disse Castro, rindo. Ele falou logo depois do presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, a quem chamou de "homem honesto" e agradeceu pela decisão de reverter cinquenta anos de políticas norte-americanas, destinadas a isolar o governo comunista cubano. Em dezembro passado, Obama anunciou que queria normalizar as relações diplomáticas com Cuba, interrompidas ha meio século - e uma das primeiras medidas foi suspender o veto de seus antecessores a inclusão do governo cubano na cúpula.
A presença de Castro e Obama na mesma mesa foi o ponto alto da sétima Cúpula das Américas - a primeira que contou com a presença de todos os 35 lideres do hemisfério. "Celebramos, aqui e agora, a iniciativa corajosa dos Presidentes Raul Castro e Barack Obama de restabelecer relações entre Cuba e Estados Unidos, pondo fim a este último vestígio da Guerra Fria na região", disse a presidenta Dilma Rousseff, em seu discurso. "Os dois presidentes deram uma primeira prova do quanto se pode avançar quando aceitamos os ensinamentos da História, deixando de lado preconceitos e nocivos antagonismos, que tanto afetaram nossas sociedades".
A reaproximação entre Estados Unidos e Cuba foi saudada pelos lideres na cúpula como uma vitória para toda a região - mas alguns lamentaram a recente crise entre os EUA e Venezuela, desencadeada por um decreto de Obama, com sanções a sete funcionários do governo venezuelano de Nicolas Maduro, por seu papel na violação de Direitos Humanos. Para justificar as medidas, de bloquear seus bens e contas nos Estados Unidos, Obama teve que declarar a Venezuela "ameaça à segurança" norte-americana - o que gerou um mal estar em toda a região.
O presidente do Equador, Rafael Correa, fez referencia à participação dos Estados Unidos no golpe militar do Chile (1973) e a invasão norte-americana do Panamá (1989) para argumentar que a potencia não é exemplo em termos de respeito aos Direitos Humanos. Mas Obama, que falou depois dele, respondeu a essa critica e às posteriores, que ele esperava receber, dizendo que os Estados Unidos "não são perfeitos" e reconhecendo erros do passado (inclusive cometidos contra os próprios cidadãos norte-americanos).
"Na primeira cúpula da qual participei, ha seis anos, prometi inaugurar um novo capitulo de engajamento na região" porque "acho que temos que acabar com velhas magoas" e "foi o que fiz", disse Obama. Ele disse que era o primeiro a reconhecer que os EUA violaram direitos humanos no próprio pais, citando os cinquenta anos da Marcha de Selma, liderada por Martin Luther King, contra a política de segregação racial. Mas - acrescentou - quando King foi preso e os negros foram reprimidos muitos, fora dos EUA, pediram sua libertação.
"Eu estaria traindo a minha historia se não fizesse o mesmo", disse Obama, referindo-se às criticas contra as violações de direitos humanos na Venezuela. Obama disse que falar sobre o passado não resolverá os problemas do presente, que o continente enfrenta. "Não estou interessado em batalhas que começaram antes que eu nascesse", disse.
Para o presidente norte-americano, é mais importante virar a página e juntar esforços para melhorar a educação, combater a pobreza e investir em energia limpa. O presidente também reconheceu que, apesar de continuar tendo diferenças com Cuba, isso não impedirá a normalização das relações entre os dois países. Mas ele não fez menção ao decreto contra a Venezuela.
O presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, disse que tinha tentado varias vezes falar com Obama, sem sucesso. "Eu o respeito, mas não temos confiança em você, presidente Obama. Se quer conversar...agora, se não quer conversar, aí esse será seu legado à Venezuela", disse.
Castro também falou da histórica ingerência norte-americana em Cuba, mas pediu desculpas por insistir no passado, quando Obama preferia apostar no futuro. ¨Peço desculpas porque Obama não tem responsabilidade pelos dez presidentes anteriores a ele...todos são responsáveis, menos Obama", disse, depois de contar que leu duas biografias do presidente norte-americano, que considera ser um "homem honesto".
Além da reaproximação de Cuba e Estados Unidos e da condenação de 33 paises (todos menos Estados Unidos e Canadá) ao decreto contra a Venezuela, todos os presentes manifestaram sua solidariedade à presidenta do Chile, Michelle Bachelet, que teve que cancelar sua visita para fazer frente aos desastres naturais em seus pais. Muitos presidentes falaram na importância de se unirem para combater as mudanças climáticas e adotar uma frente unida na conferência do clima em dezembro, em Paris.
Fonte: F.P.F.