A empregada doméstica Joaquina dos Santos, de 55 anos, moradora do Novo Gama, no estado de Goiás, para se transportar ao seu trabalho, é necessário pegar dois ônibus todos os dias. A fim de evitar um transporte lotado, para conseguir um assento, ela caminha 30 minutos até outro ponto de ônibus. Dentro do transporte, ela enfrenta mais de duas horas no percurso até o trabalho devido a congestionamentos.

A empregada explica que a qualidade dos ônibus é outro grande problema enfrentado pelos passageiros, "vinha muito cheio, muito cheio. E tem uma coisa, ele quebrava direto. Quebrava segunda, terça, quebrava três vezes na semana. Eu já estou muito cansada porque não tem transporte que passe aqui pelo terminal."

Situações como a de Joaquina são comuns em muitas cidades brasileiras. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, 11% dos brasileiros ficam, em média, 2 horas no percurso entre trabalho e casa. O aumento do número de carros nas vias é um dos motivos. Uma pesquisa do Observatório das Metrópoles, que utiliza dados do Departamento Nacional de Trânsito, aponta que a frota de veículos nas 12 principais metrópoles do Brasil teve um aumento de 77% entre 2001 e 2011. Somente em São Paulo, foram 3.400 milhões de novos veículos no período.

Segundo o especialista em trânsito e professor de engenharia civil da Universidade de Brasília, Arthur Morais, é preciso investir no transporte coletivo para diminuir o número de automóveis nas ruas, "o que é privilegiar o transporte público? Tem que ter via exclusiva. Mesmo que você não consiga melhorar o conforto agora, pelo menos você deixa a pessoa com menos tempo no desconforto. E depois arrumar formas, alternativas de financiamento para que você dê conforto, segurança e mais sustentabilidade, que você tenha veículos melhores."

Para o engenheiro de trânsito Paulo César Marques, uma alternativa para desafogar o trânsito e incentivar o transporte coletivo é passar a cobrar taxas para o uso do carro, "o maior problema não é as pessoas terem o carro. É as pessoas usarem o carro no dia a dia de forma compulsória porque não veem alternativas ou não procuram alternativas no transporte público coletivo. E se as políticas forem adequadas, de modo que se onere não apenas a compra, mas se onere o uso do transporte individual no dia a dia, como é o caso de cidades que adotam o pedágio urbano."

Durante a 69ª Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia, em Brasília, profissionais da área tecnológica debateram soluções para o sistema de transportes no Brasil. Na palestra "Domesticando o Transporte Público Brasileiro com inovações tecnológicas: novo conceito e uso" foram discutidos modelos de transporte de sucesso pelo mundo e meios de aplicações deles no Brasil. Entre eles, o da Suíça, onde é possível comprar a passagem em mercados e pontos de ônibus e utilizar mais de um transporte pagando apenas pelo tempo de uso. Para melhorar o sistema de transporte, o Governo Federal irá investir 32 bilhões de reais para obras no transporte urbano por meio do PAC Mobilidade Grandes Cidades.